sexta-feira, 22 de maio de 2009

O Albatroz

Charles Baudelaire

Às vezes, por prazer, os homens da equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.

Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doidamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.

Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico um cachimbo,
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!

O poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
A asa de gigante impedem-no de andar.

Incluído em “Flores do mal” (1857). Tradução de Guilherme de Almeida. Veja também Poesia na veia.

Um comentário:

Blog do Morani disse...

24/05/09

Senhor Guilherme Scalzilli

"Fleur de Malade" foi livro quase excomungado pela imprensa francesa e pela sociedade da época. No entanto, vemos a beleza da harpa poética de Charles Baudelaire, o sofrido, o irresponsável,endividado e irrequieto poeta dos tempos dos impressionistas. Manet foi-lhe amigo ausente nos momentos de sua agonia - morte por sífilis. Morreu aos gritos de "Crenom!" "Crenom!"
Pacificado ficou o grande poeta Baudelaire que jamais conseguiu ver as suas obras aplaudidas por todos. Procurou, em vão, na Bélgica, um seu caminho ao sucesso. Ledo engano. De lá saiu para jamais voltar, tão enojado ficou de seu povo sem calor humano.
O senhor presta a esse inesquecível poeta a honra e a glória que ele não viu agasalhada por seus patrícios.