sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Participação no Rascunho


















Ao longo de quinze meses, Luiz Bras publicou uma enquete na sua coluna do suplemento literário Rascunho. No último minuto da prorrogação tive a honra de participar da série. A pergunta central, dirigida a escritores, editores e acadêmicos, era a seguinte: "Tendo em vista a quantidade de livros publicados e a qualidade da prosa e da poesia brasileiras contemporâneas, em sua opinião, a literatura brasileira está num momento bom, mediano ou ruim?" 

Sob a perspectiva de um autor que o observa da margem (e não sem algum ressentido ceticismo), o circuito midiático da literatura brasileira parece medíocre, condescendente e previsível. A monotonia temática, o narcisismo obsessivo, a diluição dos cânones, a pobreza dos enredos, a covardia política e o desleixo narrativo marcam boa parte dos títulos adotados pelas esferas privilegiadas do campo literário.

A banalidade norteia as dinâmicas legitimadoras do mercado porque elas são baseadas em relações interpessoais e corporativas. A escolha do original pela editora, a entrevista, o convite para a feira, a resenha do suplemento, o conto ou o poema ali publicado, a seleção pelos jurados de um concurso: quase todos os pequenos sucessos que formam a reputação literária passam por alguma teia de apadrinhamento. O fenômeno não deixa de existir só porque, na maioria das vezes, é automático e inconsciente; nem por ser talvez inevitável, num ambiente saturado de concorrência e falto de oportunidades.

O predomínio da influência empobrece os critérios avaliativos do meio, acomodando-o à ilusão de que as obras reconhecidas são de fato as melhores de seu tempo, ou de que conquistaram apreciação por méritos intrínsecos. O padrão hegemônico no chamado mainstream vira referência do que é a “boa” literatura contemporânea, justificando o anonimato da multidão sem colegas nem contratos. Então o círculo de reconhecimento se fecha no já aceito e influente, preservando-o ao infinito.

Enquanto isso, na periferia do sistema, os desconhecidos vagueiam entre nichos, tribos e seitas, gastando saúde, tempo e dinheiro em obras que ninguém lerá. Iludidos pela falsa popularidade da internet e por esporádicos aplausos nos convescotes provincianos, jamais terão sequer uma ideia de seu real valor. Mas continuam alimentando a mitologia de uma efervescência literária da qual permanecerão inexoravelmente excluídos.

Nenhum comentário: