Às vezes encontro uma curiosa distorção do
apanágio malufista “rouba mas faz” (originado em Adhemar de Barros), aplicado a
Lula. O malufismo é o último refúgio do petista, e variações equivalentes.
A acusação aos apoiadores de Lula remete a certa
excrescência pragmática da política populista. Inaugurando obras, o sujeito
pode afanar quanto quiser. São todos corruptos de qualquer forma, só importam
os resultados práticos, etc.
O resgate do malufismo é curioso porque demonstra
certa inversão nas estratégias narrativas da direita. Agora não se relativiza mais
as conquistas sociais dos governos Lula, outrora dissipadas em recortes históricos envolvendo FHC.
O foco passou à maleável questão moral, abandonando
fatos (de resto estatisticamente irrefutáveis) que há pouco tinham alguma relevância
nos debates políticos. Guinada conservadora típica, de apelo inegável nos
botequins virtuais.
Mas essa retórica traz em si uma contradição
insanável.
A ideia de que Lula “roubou” nasce nas “convicções”
de Sérgio Moro e Rodrigo Janot. E adotá-las é aceitar os seus métodos. Surge
então o raciocínio “Moro e Janot forçam a barra, mas lutam contra a corrupção”.
Às vezes agem errado, mas pela causa certa.
Um pragmatismo similar ao malufista, portanto, norteia
os admiradores da Lava Jato. Desde que petistas sejam presos, dane-se a
legalidade. Afinal, isso acontece todos os dias no Judiciário. Garantismo é
coisa de burguês.
Sintomaticamente, tanto o malufismo da caça a Lula
quanto a própria malufização do petista antagonizam com a defesa de direitos
constitucionais.
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