quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Fritando Erenice



O sacrifício de Erenice Guerra seguiu o roteiro conhecidíssimo das campanhas de destruição de reputações operadas pela mídia oposicionista.

Um. A escolha da vítima, a protagonista do escândalo, é feita criteriosamente. Quem vive nos bastidores do poder sabe onde procurar.

Dois. A fonte principal das acusações é personagem suspeito, quiçá mesmo criminoso, que recebe um estranho voto de confiança das redações. Em algum lugar do enredo há coadjuvantes ligados a políticos ou àquela facção serrista da Polícia Federal, mas esses detalhes passam “despercebidos”.

Três. As acusações são tecnicamente mirabolantes e inverossímeis. Qualquer tribunal as derrubaria, mas em certas ocasiões os comentaristas adoram parecer idiotas.

Quatro. As matérias repercutem essas falácias diariamente, repetindo simplificações grosseiras, boatos e especulações, até que a obviedade mais rasteira ganhe uma aura pecaminosa.

Cinco. Os personagens caricatos do entorno viram bodes expiatórios. Ganham apelidos. São fotografados em poses repugnantes, têm suas biografias devassadas. Caem no escárnio público e o episódio entra para o anedotário político da nação.

Fim. Pressionada por todos os lados, desmoralizada e exausta, a vítima principal do conluio não vê outra saída senão pedir demissão. É a glória do jornalismo corporativo.

Esse esquema serve para qualquer escândalo do governo Lula. Basta inserir os nomes nos espaços vagos. Trata-se de estratagema irresistível, porque utiliza o imediatismo da imprensa diária e os imensos recursos das grandes corporações para um ataque fulminante, que não permite respostas.

Qualquer medida judicial contra esse abuso recebe imediatamente a pecha de censura. Quando ficar evidente que tudo não passou de um ardil malvado, será tarde para a devida reparação. E o assunto terá caído na irrelevância.

A isso os editoriais chamam "liberdade de imprensa".

4 comentários:

Carlos Morales disse...

Sua análise é concisa, mas nem por isso menos profunda. Parabéns

Anônimo disse...

que análise absurda...

Anônimo disse...

Guilherme,
Infelizmente a mídia gorda ainda tem força neste país.
Aí está a queda da ministra que não nos deixa dúvidas.
A Folha derrubou Erenice.
E a Veja e o JN levarão a eleição ao segundo turno.
Há muita gente, notadamente de classe média, mas muita gente mesmo, que estava pensando votar em Dilma, e que com essa pressão toda das últimas semanas já mudou de lado.
O problema maior é que não há o contraponto, o espaço para a resposta; esse povo fica com um lado só da estória.
E vem muito mais por aí.

Maurício Gil - Floripa (SC)

Charles disse...

Que a fonte é suspeita e a imprensa serrista não há duvidas. Acontece que nada disso, nem mesmo as acusações classificadas como inverossímeis pelo autor desse blog, atenuam irregularidades tais como a nomeação de amigos e familiares para pastas do governo, fatos já comprovados.
Acontece que o grande público não é tão tolo quanto o autor supõe, mesmo porque esse jogo não é novo.
De fato alguns podem migrar de candidato, mas é difícil ver isso como "mudança de lado". Dada a superficialidade de critérios que orientam o eleitor, fica claro que a escolha entre os dois mais bem cotados candidatos trata-se de uma simples escolha de gestores, tal como numa multinacional. Dois gestores pra um mesmo projeto.