segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Pagando para sofrer


Publicado na revista Caros Amigos em setembro de 2010.

A violação dos direitos do consumidor brasileiro atingiu níveis insuportáveis. Enquanto as autoridades repetem os jargões da cidadania, interesses privados violentam moral e financeiramente milhões de pessoas indefesas. Em plena euforia desenvolvimentista, a sociedade continua presa num capitalismo pré-histórico, lesivo e inescrupuloso. Ninguém age contra esses absurdos cotidianos.

Passada a histeria inicial, as empresas adaptaram-se ao teatro da fiscalização irrelevante. “Propaganda enganosa” virou pleonasmo e, no fundo, uma qualificação bastante confortável para o delito. As vítimas, desinformadas, incrédulas ou preguiçosas, dificilmente reclamam. Mas podemos culpá-las? Os Procons, sucateados e afeitos a intervenções políticas, são máquinas de moer paciências e bravatear resoluções menosprezadas. As sanções, limitadas e eventuais, resultam desprezíveis perante os recursos dos infratores. E basta-lhes ignorá-las, deixando que as catacumbas judiciais posterguem seus castigos até um futuro incerto.

No mundo tenebroso dos serviços essenciais e planos médicos, esse pesadelo ganha cores surreais. O crime é escancarado e impune. Os poucos funcionários de concessionárias que ouviram falar em regulamentações zombam delas às próprias ouvidorias. Os órgãos “responsáveis” fingem que mandam e as companhias, quando respondem, prometem “estar verificando” nosso status de imbecis. Afinal, continuaremos pagando fortunas para tais punguistas, pois inexistem alternativas a eles. Nada como privatizar monopólios.

Os maiores transgressores das normas de consumo são justamente os principais anunciantes da mídia nacional. A imprensa jamais defenderá que os bandidos recebam as punições rigorosas e definitivas que merecem. E o governo federal, acuado pelos fantasmas do desemprego e da estatização, prefere parecer apenas covarde.

Um comentário:

a lesma lerda disse...

Dizem que os brasileiros não querem direitos; querem privilégios.
Não querem ser cidadãos; querem ser consumidores...
E nem como consumidores são capazes de se fazer respeitar...