quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Oswaldivanas



Escreveu Augusto de Campos:

“(Ferreira) Gullar embolsa prêmios acadêmicos. Tem o seu público. Sua poesia é de bom nível, embora não tão boa quanto supõe. Nunca foi tão demagógica e previsível. E toda vez que ele se mira no espelho mágico da Spaghettilândia para perguntar quem veio primeiro, uma imagem familiar lhe responde: OS CONCRETOS, OS CONCRETOS... Mas há quem o superestime, perdoando ao poeta a incoerência e os deslizes facilitários, e ao homem a incontrolável vaidade, o fútil vira-casaca. Devia estar saciado. A gula não deixa. Parlapatético, reduz Oswald a um Papai Noel de alpargatas que lhe trouxe guloseimas. Grato com o agrado, fez um poeminha que guardou na gaveta quando Papai Noel morreu. Não sabe de nada. (...) Vã-guarda arrependida, o genioso e academissivo umbigófago de sandálias não percebe o quanto dista do genial antropófago de gravata, rebelde permanente.”

Pena que a refrega dos poetas tenha se esgotado logo, na própria falta de substância que a motivou desde o início. Divertiu-me a valer, no entanto, apesar da falsa vocação polemista que a Folha tenta reinventar com as migalhas da credibilidade restante. E foi gostoso ler alguém do porte de Augusto de Campos arranhando o lustro desse pajé oposicionista que Gullar personifica desde os governos Lula.

Quando escrevi um artigo sobre os equívocos políticos do poeta maranhense e de Caetano Veloso, este reagiu com virulência, numa carta à Caros Amigos. Tive então a valorosa oportunidade de trocar duas ou três mensagens com o genial compositor, que, aos olhos deste fã sempiterno, pareceu ter pelo menos compreendido meu argumento. Gostaria muito de saber o que ele pensa do imbróglio recente dos literatos que tanto aprecia.

Vista do meu canto provinciano e indiferente, a polêmica apenas realça a distância entre a iconoclastia oswaldiana (e mesmo a dos seus adoradores tropicalistas) e o cinismo bem comportado, apadrinhado, riso-amarelado que predomina pelas feiras literárias atuais. As mesas debatem as alegres peripécias das vanguardas, mas nunca aceitariam jovens provocadores que se comportassem como os mais cautelosos modernistas de 1922. Oswald seria trucidado em Paraty.

Um comentário:

miguel disse...

Eu também me diverti muito com os poetas "oitentões". Não que eu seja um grande apreciador de poesia (sim, eu tenho esse defeito, fazer o quê?)mas as farpas entre o Gullar e o Campos foram uma das coisas mais interessantes nesses últimos tempos. Também lamento muito que tenham acabado. Até porque a paisagem cultural anda meio enfadonha. Adorei saber da tal Spaghettilândia (essas citações ao Rio dos anos 50 e 60 me despertam uma estranha nostalgia, saudade do que eu não vivi, mas isso é assunto para outra hora). Nunca imaginei que no Rio daquela época tivesse existido tal coisa.
PS-Já deixei claro em alguns comentários por aqui que quero manter uma boa distância de política partidária. Mas essa insistência do Gullar em "malhar" o Lula é um pé no saco!