terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A esquerda e o Pinheirinho



Os equivocados ataques a uma suposta omissão do governo federal servem à estratégia demotucana de envolver a única instância que fez alguma coisa (mesmo que obviamente irrisória) para impedir a tragédia do Pinheirinho. Os maiores responsáveis pelo impasse foram os governos municipal e estadual. Os esforços concentrados da juíza, do prefeito e do governador buscaram justamente abortar qualquer solução negociada, criando um fato consumado que inviabilizasse o recuo e a conseqüente vitória política do Planalto. Eis por que rapidamente promoveram a bárbara destruição dos bens abandonados pelos moradores e aniquilaram os vestígios físicos da comunidade.

A macabra disseminação de falsas estatísticas fatais apenas fortalece a idéia de que a ausência de óbitos legitimaria a operação policial. O anseio por uma catástrofe exemplar enfraquece as denúncias dos maus-tratos sofridos pelos desabrigados. Fruto da mesma cegueira oportunista, a glamorização da pobreza “insurgente” (ou a "comiseração desgraçada") conduz a uma fantasia romântica sobre a realidade do sofrimento daquelas pessoas. A favela pode ser palco e símbolo de uma luta, mas nunca representará sequer um rascunho de solução para os problemas sociais e urbanísticos envolvidos. Foi a necessidade, e não um pretenso espírito libertário, que levou os ocupantes a se instalarem no Pinheirinho.

Tais mistificações ajudam a esquerda a fugir de uma reflexão isenta sobre suas próprias responsabilidades na gestação do episódio. A tragédia só ocorreu porque o governo Geraldo Alckmin e seus esteios no obscuro Judiciário paulista não enfrentam uma oposição articulada e eficaz do PT, do PSB e de outros partidos da base governista federal. Se, por exemplo, as ações dos cossacos na USP ou o sepultamento do mensalão da Alesp tivessem recebido o tratamento que mereciam, a oligarquia ultraconservadora que domina o Estado guardaria pelo menos a sensação de fragilidade que advém da fiscalização externa e do constrangimento público. E pensaria duas vezes antes de cometer um absurdo como o de Pinheirinho.

Essa é uma simples culminância de um longo processo de arbitrariedades isoladas que passaram incólumes por décadas de harmoniosa convivência entre a esquerda paulista e a hegemonia demotucana. Todos são cúmplices. E devem começar imediatamente a discutir como desfazer um ambiente de repressão e autoritarismo que já ultrapassa o nível do suportável.

5 comentários:

Vania disse...

Mais uma vez, um comentário sensato e sensível que mostra a realidade dos fatos. Tenho certeza de que a estratégia dos governantes de São Paulo é arrastar o governo federal para uma "briga" que venha a chamuscá-lo e desacreditá-lo junto à opinião pública. Nada me parece mais descabido do que responsabilizar Dilma e seu ministério pelas trágicas ocorrências do Pinheirinho.

Alexandre disse...

Boa tarde,

Eu terei que discordar do teu post. O que aconteceu é o seguinte: quem mandou executar toda essa "obra" é a lei. O terreno, cujo era uma fábrica falida, é de propriedade privada. Parece que você desconhece a palavra "Estado de Direito".
Tudo isso aconteceu quando sindicatos ou candidatos à Câmara Municipal (maioria ligada ao PT) trocam o terreno pelo voto. "Pode ir ali ocupar aquele pedacinho de terreno que depois damos jeito". Assim, muito passaram a ocupar terreno alheios. É triste manipular as pessoas dessas maneiras, né?!? Talvez até que eles - os moradores - estejam conscientes daquilo que pode ser um grande risco depois.

O Poder Judiciário exigiu para que o Poder Executivo retirasse todas pessoas daquele local. Todas as pessoas ali foram avisadas muito bem antes. E não foi único aviso. Foram vários. O governo do estado não fez mais que sua obrigação. Óbvio que Alckmin jamais queria retirar as pessoas dali, sabendo o mal que espera (as prospera das manipulações do PT e a perca de votos. O Poder Judiciário não tem policial algum. Então, sobrou para o governo de SP.

Isso é tudo.

Anônimo disse...

Pois eh....o Alexandre disse tudo....
Direito a propriedade ainda eh uma garantia constitucional ou nao?
Ai vai a galera do PSTU e resolve "administrar" uma area invadida, cobrando pedagio (na verdade extorquindo, o que eh crime previsto no CP) dos moradores e comerciantes que decidiram se instalar no local.
Instigados a fazerem isso ou por decisoa propria, acabaram indo para lah talvez na va intencao de receber alguma benesse que viesse a lhe diminuir as dificuldades.
Aquela velha historia de trocar voto por alguma vantegem....
Deu no que deu....
Os feitores do PSTu que se instalaram na area, chefiados por um tal de "Marrom" e mais um advogadozinho mequetrefe acharam que poderiam confrontar a justica e mais a versao fardada da sociedade que eh a policia.
Tudo amplamente arranjado para produzir vitimas e ser possivel satanizar o governo de SP, pois eh um governo de oposicao ao governo federal.
Tipica estrategia do "quanto pior melhor". E a populacao comum que se exploda servindo como bucha de canhao....
Nada alem disso...

Devão disse...

Se querem mesmo saber, é simples de um lado 9000 pessoas desabrigadas, desempregadas e desacreditadas da sociedade, de outro uma legião de tucanos e petistas sacanas que estão pouco se fudendo para os direitos civis, só os impostos importam, o merda ai em cima que defendeu o psdb é um grande otario mesmo!

Viviane da silva disse...

ótimo post.