quarta-feira, 25 de julho de 2012

Longe

















Filas, bagunça, desinformação, congestionamentos monstruosos, preços inadmissíveis, ameaças de greve e protestos, superfaturamento e ilegalidades múltiplas, brutalidade policial, grosseria de funcionários. Nada mobiliza o senso crítico do jornalismo brasileiro, incapaz de cobrir os Jogos Olímpicos britânicos sob os mesmos rigores que reserva aos eventos brasileiros.

Intempéries que no Rio de Janeiro (ou numa capital administrada por petistas) seriam chamadas de “apagão”, “caos”, “colapso” e outros substantivos marcantes de uso oportuno, na ilha viraram percalços menores, compreensíveis, talvez mesmo causados pelas hordas incivilizadas que teimam em poluir terras tão soberbas com seu terceiro-mundismo feio.

Agora descobrimos que até a prerrogativa muito básica e individual de escolher as próprias vestes será violada pela patrulha a serviço dos conglomerados financeiros que monopolizam a festa. Estão proibidas mensagens políticas, nacionais e comerciais que desagradem os patrocinadores dos Jogos. As empresas decidem que roupas os espectadores usarão. Não pode vestir camiseta com a foto do Che Guevara. Mas e a do palhaço Bozo, pode? A da rainha chupando sorvete?

Os bravos comentaristas tupiniquins, embasbacados com toda aquela (falsa) assepsia construída a porrete, acham pouco e bom. Seu comportamento apenas em parte é fruto do fascínio típico dos turistas festivos – bastante fiel, aliás, ao provincianismo que caracteriza a análise esportiva das capitais. A fantasia da superioridade gringa, aliada à do nosso fracasso inexorável, segue também motivações menos lisonjeiras: trata-se de uma espécie de vingança despeitada contra a realização dos Jogos e da Copa no Brasil, vitórias políticas de Lula (e do país) que a imprensa oposicionista jamais engoliu.

Entre o ufanismo tolo e a autodepreciação jeca, talvez sobre algum espaço para a simples fruição do espetáculo.

Um comentário:

Vania disse...

Hà dois anos estive no Reino Unido, de férias, e fiquei imensamente desapontada. Vi tanta coisa ruim! Trens atrasados sem explicação, funcionários relapsos e grosseiros, total falta de informação sobre inúmeras coisas. Uma loucura! Achei a maioria das pessoas muito triste, cabisbaixa e desinteressada. Muitas, mas muitas mesmo, apresentavam os dentes (quando os tinham) estragados e sujos. Vi briga de rua, entre dois grupos que pareciam gangues de jovens. Fiquei apavorada! Vi um velho mendigo assediando duas moças orientais no ônibus. Vi gente gritando sem mais nem menos, como se fosse doida! Quase não tinha polícia nas ruas, a bem da verdade, vi apenas duas duplas de policiais, em lugares e horários diferentes. Enfim, confesso que me senti insegura e apreensiva, durante a maior parte do tempo. De outro lado, não resta dúvida de que os parques são lindos, os museus são fantásticos, os teatros têm grandes espetáculos. Mas, não se pode anular uma coisa pela outra. Aqui também temos muitas coisas belas, e muitas mazelas. O que irrita nessa "imprensa" colonizada é a sua incapacidade de ponderar os dois lados.