segunda-feira, 22 de julho de 2013

Segredos virtuais


















O assombro da grande mídia perante a espionagem dos EUA na internet é tão hipócrita que chega a soar ofensivo. Não apenas porque ninguém do ramo jamais acreditou no respeito à intimidade dos usuários, mas principalmente pela tentativa de convencer o público de que a violação fere algum código ético em vigor na rede. Como se apenas arapongas traficassem os segredos alheios.

A internet é a materialização da distopia controladora do Big Brother orwelliano: todos os dados pessoais de bilhões de terráqueos concentrados no mesmo acervo, para acesso imediato e desimpedido. Não há atividade cotidiana que fuja ao uso do suporte. Tampouco existe proteção eficaz das informações registradas nos interstícios dessa maquinaria, desde os números bancários até a rotina de mensagens e pesquisas.

Qualquer instituição ou indivíduo com suficiente capacidade operacional pode esmiuçar referências cruzadas que chegam a padrões de consumo, inclinações ideológicas, planos profissionais, perfis psicológicos e assim para muito mais adiante. São conhecimentos inestimáveis, de alcance inédito, que ultrapassa o prosaico nível comercial.

Supor que Google, Facebook, Apple e Microsoft não utilizem esse potencial, ou não sejam usados por causa dele, é ingenuidade equivalente a dissociá-lo do imenso poderio econômico desses grupos. Mas parece haver muita gente que prefere os confortos modernos da inocência. Para alimentar ilusões revolucionárias através de empresas multinacionais que colaboram com governos é mesmo necessária uma boa dose de credulidade.

Nenhum comentário: