Os protestos desapareceram. Até das cidades em que
as passagens do transporte urbano voltaram a aumentar. Até durante os desfiles
do Sete de Setembro. Até, pasmem, na campanha eleitoral.
Claro que não me refiro a sem-teto, camelôs, grevistas
e outros movimentos setorizados, com pautas mais ou menos claras e participação
restrita. Falo daquela turba descontente que saiu às ruas bradando contra o
sistema político, as desigualdades, o mau uso do dinheiro público. Exigindo
escolas, hospitais, reformas diversas. Cadê?
É impossível culpar a repressão policial, que foi
o grande propulsor das manifestações de 2013 e continua a espalhar suas
brutalidades. Mesmo a prisão de ativistas deveria suscitar uma resposta à
altura. O fim da Copa do Mundo tampouco serve como pretexto. Afinal, supondo
sinceros os objetivos dos seus adversários, os problemas permanecem, e livres
da aprovação recebida pelo evento.
Então onde diabos foram parar os indignados? Por
que decidiram poupar a grande farsa do sufrágio, que pereniza a máquina estatal
e o sistema burguês? Não seria coerente com seu verniz “tático” se os black
blocs aproveitassem o ritual da maldita classe política para desmascará-la? E o
voto nulo, a abstenção, a desobediência civil que parecia a única forma efetiva
de luta?
Que sonífero tomou o “gigante das ruas”, bem no
momento em que ele teria mais visibilidade, contundência e poder de
transformação?
Pensando bem, estão certos aqueles que
responsabilizam as eleições. Elas tornaram os mascarados pragmáticos. A arruaça
não faria bem à imagem da candidata “inovadora” que passou a representar seus
anseios revolucionários. Tampouco ao discurso probo do antipetismo, que
milagrosamente substituiu as plataformas genéricas de outrora.
Parece coisa de marqueteiro esperto. Mas, como
sabemos, os manifestantes são espontâneos e apartidários.
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