segunda-feira, 28 de abril de 2008

Serra e a direita

O governador José Serra está costurando uma aliança abrangente com o DEM (PFL) oriundo do malufismo e as alas mais conservadoras do PMDB oposicionista, controladas localmente por Orestes Quércia. A estratégia vem sendo cuidadosamente elaborada para que Serra ocupe os espaços deixados por Geraldo Alckmin, cujas fragilidades latentes o fazem indigesto para quase todas as lideranças dos dois partidos.
Alckmin é um péssimo candidato, não apenas porque fadado a perder eleições, mas principalmente pela fragilidade programática, a personalidade imprevisível, as ligações obscuras e constrangedoras. Todo o PSDB histórico, além de seus financiadores e apoiadores fora do partido, tenta se descolar polidamente do ex-governador, enquanto anseiam pelo surgimento de alternativas irresistíveis que justifiquem uma debandada.
Serra conhece essa demanda, que ele mesmo alimentou nos últimos anos. Sabe ainda que, enquanto Alckmin tiver ilusões, seu espectro rondará o PSDB, ameaçando a aparência harmoniosa do “já-ganhou” com o qual o partido vai tentar impregnar a campanha de 2010.
O problema de Serra não é Aécio Neves, mas a ponte que este criou para operar dentro da fortaleza paulista do partido. As chances eleitorais do mineiro dependem mais do governo federal do que dos próprios aliados. Sua condição de franco-atirador o faz perigoso num momento de desunião.
Serra planeja resolver a questão doméstica nos próximos meses e deixar a disputa nacional para depois, quando as peças estiverem acomodadas. Agora ele corre para ocupar espaços sem comprometer os interesses imediatos que combustam as disputas de outubro. Seu primeiro passo é aglutinar as forças da direita paulista em torno de si, de maneira ainda mais radical do que FHC e Mário Covas, antes que os adversários (internos e externos) o façam.
Apesar do constrangimento da imprensa paulista, visceralmente empenhada no projeto serrista, o futuro do governador depende da ressurreição de um conservadorismo de triste memória para o Estado. À medida que o plano ganhar corpo, o malufismo e o quercismo serão magicamente dissimulados sob outras bandeiras, mais progressistas e palatáveis. Mas o estofo permanecerá.

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