Werner Herzog já havia realizado um documentário elogiado sobre a saga de Dieter Dengler (“Little Dieter needs to fly”, de 1997), piloto dos EUA que passou horrores como prisioneiro e fugitivo na selva do Laos, durante a Guerra do Vietnã. Dez anos depois, Herzog conseguiu angariar condições materiais (e o apoio de um bom elenco hollywoodiano) para filmar a versão ficcional do tema.
A julgar pela reação de familiares dos personagens envolvidos no evento, há mesmo um componente fictício muito acentuado. Isso empobrece o realismo, porém facilita a compreensão e até a tolerância do grande público. Como sempre na carreira de Herzog, as filmagens (na Tailândia) foram conturbadas: brigas do diretor contra os técnicos estadunidenses, problemas financeiros dos produtores, calotes vitimando funcionários e estabelecimentos, perseguições do governo local. Também parece evidente que Herzog foi afastado da montagem final, que não incluiu seus tradicionais planos longos e contemplativos.
Quem acompanha a carreira do ator Christian Bale sabe que ele não poupa esforços físicos para interpretar personagens difíceis. Antes de atuar em “O maquinista” (2004), emagreceu a um grau assustador, desafiando os médicos e o bom-senso. Tais sacrifícios amiúde ocultam deficiências técnicas, mas Bale é realmente um dos grandes atores de sua geração – infelizmente pouco aproveitado, embora saiba conciliar projetos alternativos com campeões de bilheteria (é o atual Batman).
Aqui, ele volta a parecer um faquir, aceita submeter-se a privações indigentes, come lagartas vivas, mastiga pedaços crus de cobra, passa horas boiando num rio lamacento, esgoela-se todo na floresta tropical. Para admiradores de perrengues, superações e aventuras, é um, digamos, prato cheio.
E Herzog continua acima da mediocridade reinante, mesmo quando abraça (ou aceita) o convencionalismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário