segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Desacordo

Confesso envergonhado que ignoro quase completamente o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Tive tempo de sobra para me adaptar, mas o fato é que simplesmente subestimei as mudanças previstas, não as considerava tão próximas e, no fundo, sempre desconfiei que alguém surgiria para explicar que havia sido um grande engano, uma brincadeira de mau gosto, um ensaio para qualquer mudança verdadeira prevista num futuro muito, muito longínquo.
Delfin já sabia de tudo há tempos, e foi o primeiro que encontrei com algum conhecimento do imbróglio. Mesmo ele confessa que dá suas cabeçadas, o que é normal, talvez inevitável.
Continuo cometendo textos na ortografia antiga, mesmo porque meu corretor eletrônico ainda pensa que o presidente dos EUA é George Bush (o pai, não o símio). Nos veículos que publicam minhas colaborações, conto com a paciência dos heróicos revisores que corrigem as bobagens, salvando-me do ridículo; mas este blog, infelizmente, permanecerá obtuso por mais algum tempo.
Tenho sentimentos conflitantes sobre o Acordo. Dá um trabalho danado, aparentemente desnecessário. Mas também é fundamental para que os países lusófonos possuam regras escritas unificadas, algo que fortalecerá o mercado editorial, o intercâmbio de informações e a difusão da língua.
Será mesmo? Não tenho certeza. Apesar da grande antecedência, parece-me que faltou uma discussão séria e aprofundada sobre o assunto. Tanto que o Acordo ainda está longe de ser consolidado, graças às muitas excrescências permitidas.
E, para escritores “paranoicos” pela visualidade da palavra, a coisa pode complicar deveras. Bolas, como imaginar a “idéia” sem aquele acento bem no meio, parecendo uma faísca a iluminá-la? E a ordem “pára” destituída de ênfase, quase uma palma interrompendo o movimento do interlocutor? Isso tudo sem citar o assassinato do trema e a revolução do hífen, que permitiu mirabolâncias do tipo “minissaia”.
Seja como for, o Acordo é inexorável e soberano, ao contrário da Lei Seca. Talvez um dia eu enfim o compreenda, mas esse objetivo foi empurrado lá no final da agenda. Agora com licença, preciso jogar fora todos os meus dicionários e manuais de redação.

2 comentários:

Anônimo disse...

Guilherme, até agora estou indignado com tamanha falta do que fazer dos "velhinhos" das Academias Nacionais de Letras. Se a dita mudança emerge para unificar, seria mais válido que unificassem parte do vocabulário e/ou as regras editoriais? Agora, unificar a ortografia é coisa para boi dormir. O que os "velhinhos" querem é vender manuais sobre a novo acordo ortográfico, lucrando às custas dos outros.

Mas o melhor da postagem mesmo foi: George Bush (não o pai, o símio). Boa sacada!

Anônimo disse...

pior que ter uma má ideia
é ter uma idéia sem acento...

fks