sexta-feira, 29 de maio de 2009

Wislawa Szymborska (n. 1923)

O terrorista, ele observa

A bomba explodirá no bar às treze e vinte.
Agora são apenas treze e dezesseis.
Alguns terão ainda tempo para entrar;
alguns, para sair.
O terrorista já está do outro lado da rua.
A distância o protege de qualquer perigo.
E, bom, é como assistir a um filme.
Uma mulher de casaco amarelo, ela entra.
Um homem de óculos escuros, ele sai.
Jovens de jeans, eles conversam.
Treze e dezessete e quatro segundos.
Aquele mais baixo, ele se salvou, sai de lambreta.
E aquele mais alto, ele entra.
Treze e dezessete e quarenta segundos.
A moça ali, ela tem uma fita verde no cabelo.
Mas o ônibus a encobre de repente.
Treze e dezoito.
A moça sumiu.
Era tola o bastante para entrar, ou não?
Saberemos quando retirarem os corpos.
Treze e dezenove.
Ninguém mais parece entrar.
Um careca obeso, no entanto, está saindo.
Procura algo nos bolsos e
às treze e dezenove e cinqüenta segundos
ele volta para pegar suas malditas luvas.
São treze e vinte.
O tempo, como se arrasta.
É agora.
Ainda não.
Sim, agora.
A bomba, ela explode.

Tradução de Nelson Ascher da versão inglesa de Adam Czerniawski e da norte-americana de Magnus J. Krynski e Robert A. Maguire.

...

O amanhecer

Ainda durmo
e entretanto sucedem-se fatos.
Clareia a janela,
acinzentam-e as trevas,
surge o quarto do espaço sombrio
e nele tentam firmar-se rastos de luz pálidos e vacilantes.

A seguir, sem pressas,
pois é uma cerimônia,
amanhecem as superfície do teto e das paredes,
separam-se as formas
umas das outras,
a esquerda da direita.

Alvorecem as distâncias entre os objetos,
chilreiam os primeiros clarões
no copo e na maçaneta.
Já não só parece, agora é no seu todo,
aquilo que ontem foi movido,
o que caiu no chão
e o que se enquadra nas molduras.
Só os pormenores
ainda não deram entrada no campo da visão.

Mas atenção, atenção, atenção,
muito parece indicar que regressam as cores
e mesmo a mais ínfima coisa vai recuperá-las
justamente com os tons da sombra.

Muito raramente isto me espanta, mas deveria.
Habitualmente, acordo na condição da testemunha atrasada,
com o milagre já consumado,
o dia estabelecido
e o amanhecer com mestria em manhã transformado.

Tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio Neves.

Nenhum comentário: