A uma criança que dança no vento
Vá lá, vá na praia dançar;
Pois como pensar que a incomoda
Rugido de vento ou de mar?
E solte os cabelos à roda,
Molhados por gotas de sal;
Tão jovem, você desconhece
O tolo exultar do boçal,
O amor que ao nascer já perece,
E o obreiro melhor que, sem vida,
Deixou a colheita ao relento.
Mas como pensar que a intimida
O grito monstruoso do vento?
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II
Dois anos mais tarde
Ninguém falou da falta de cultura
Dessas pupilas tão gentis e ousadas?
Nem lhe avisou da angústia que tortura
As mariposas quando são queimadas?
Eu lhe diria, mas... é jovenzinha;
A sua língua não é igual à minha.
Você pensa que o mundo é amigo seu,
E a tudo o que surgir vai dizer sim;
Há de sofrer como sua mãe sofreu,
E como ela há de estar quebrada ao fim.
Mas sou velho e você é jovenzinha,
E é língua bárbara esta língua minha.
Traduções de Paulo Vizioli
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