Publicado na revista Caros Amigos, em agosto de 2009
Faltos da autocrítica necessária para explicar a própria desmoralização perante a sociedade, bravateiros midiáticos de várias estirpes decidiram culpar as propagandas oficiais. Ignoram, por motivos óbvios, a grande imprensa oposicionista ou os investidores alinhados aos seus interesses. Preferem repudiar os anúncios que financiam veículos “menores”, acusando-os de irrelevantes e ideologicamente comprometidos com a base de apoio do governo federal.
A legitimidade dos meios de comunicação independe de critérios financeiros ou quantitativos. Democratizar o acesso à informação, descentralizando e disseminando-a, implica negar a lógica excludente do mercado e a ditadura do pensamento único. E restam poucas alternativas ao suporte estatal, pois o empresariado custeia o antigo sistema de monopólios e dificilmente apoiará iniciativas inovadoras que o desafiem.
Publicidade não é menos transparente e lícita porque mantida com verbas públicas. Pouquíssimos correntistas de um banco ou bebedores de refrigerante sabem que ajudam a manter panfletos reacionários como a revista Veja, e seu poder de influenciar tais decisões nem se compara ao dos eleitores. Inexiste o pleno direito de escolha num ambiente marcado pela desproporção econômica.
A suposta independência das grandes empresas jornalísticas existe apenas na fantasia do marketing corporativo. Em meio à crise financeira que ameaça o futuro das mídias tradicionais, anunciantes exercem agressiva ingerência sobre as editorias, no mínimo para evitar matérias indesejáveis. Qualquer entidade capaz de pagar centenas de milhares de reais para ocupar páginas inteiras dos melhores cadernos (ou longos minutos em horário nobre) pode exigir contrapartidas que extrapolem o chamado “retorno institucional”. E nada garante que tal interferência tenha motivações estritamente comerciais.
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