quinta-feira, 1 de outubro de 2009

“Amantes”

James Gray é raro exemplo de jovem talento estadunidense que não foi deglutido pelas engrenagens dos seriados televisivos ou dos filmetes de gênero para adolescentes. Da geração anterior (aclamada nos anos 90), muito promissora, restaram poucas obras sólidas. Hal Hartley, que me encheu de expectativas então, sumiu, ou quase. Jim Jarmusch continua original, mas, como os irmãos Coen e Steven Soderbergh, está longe de ser um novato. E M. Night Shyamalan anda superestimado e autocomplacente.
Gray, aos quarenta anos, já possui uma filmografia importante e autoral. Extrai interpretações marcantes, esbanja apuro visual, sabe escolher seus textos e, acima de tudo, conhece o valor dos silêncios. Tudo isso resplandesce em “Amantes”.
É o típico filme que, em meus glóreos tempos ociosos, assistiria durante sessões ininterruptas, dias a fio. Joaquin Phoenix domina a cena, transmitindo organicamente as oscilações de seu personagem bipolar, carente, apaixonado. Sua atuação comovente parece ainda mais heróica ao notarmos que a câmera está sempre muito próxima dos atores, acompanhando olhares e respirações.
Os enquadramentos evitam a previsibilidade comum aos dramas românticos. A fotografia esmaecida, em tons pastéis, transmite uma solidão invernal que suplanta mil monólogos chorosos.

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