segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Os silêncios de Serra


Publicado na seção especial "Eleições 2010", do Amálgama

José Serra evita assumir a candidatura presidencial porque ainda não confia em suas chances de vitória. Pragmático, sabe que uma derrota o afastaria, talvez definitivamente, do comando peessedebista em São Paulo. A liderança passaria ao novo governador, provavelmente Geraldo Alckmin, que disputa espaço com Serra e substituirá seus apadrinhados assim que possível.

Um remoto fracasso nos âmbitos nacional e estadual causaria estrago ainda maior, podendo inclusive levar à desintegração do PSDB. Por outro lado, aceitando a reeleição, dada como inevitável até por seus adversários, Serra garantiria uma imensa máquina administrativa e manteria posição destacada no partido.

Mas ele possui outros motivos para adiar uma definição. Não resta dúvida, se alguma houve, de que a campanha presidencial terá caráter predominantemente plebiscitário. Qualquer pré-candidato oposicionista, assim que se assuma como tal, será constrangido a posicionar-se acerca das principais vitrines do governo Lula. Deverá anunciar a continuidade ou a interrupção do Bolsa Família e do PAC, por exemplo. Na primeira hipótese, para não contrariar a grande aprovação popular, entraria em conflito com o próprio discurso repetido pela oposição nos oito anos de governo Lula. Optando pelo posicionamento mais coerente, desagradaria uma porção relevante do eleitorado.

Em 2006, a candidatura Alckmin naufragou precocemente porque não soube escapar desse dilema. Serra, por temperamento e opção estratégica, precisa fugir da indefinição constrangedora a que seu colega tucano foi jogado. A solução plausível é despolitizar os debates que antecedem as definições das candidaturas, apostando no enfoque biográfico e numa imagem de excelência administrativa que a grande imprensa serrista procura espalhar pelo país.

Trata-se, portanto, de empobrecer a agenda eleitoral até que Dilma Rousseff esteja exposta, sem anteparos institucionais, vulnerável a ataques pessoais. Serra então divulgaria sua versão da “Carta aos brasileiros” petista, inaugurando uma nova fase na sucessão. Ou deixaria a incumbência para Aécio Neves, que tem muito menos a perder.

Nenhum comentário: