Publicado no especial "Eleições 2010", do Amálgama.
Uma polêmica recente dividiu os apoiadores de Dilma Rousseff. De um lado estavam aqueles que não viam problemas na condução da sua pré-campanha; de outro, seus críticos, acusados de reciclar o conteúdo da mídia corporativa e de fornecer argumentos para os adversários.
A confusão é típica do momento. O ambiente indefinido em que está mergulhada a sucessão ajuda a alimentar certa angústia na militância. As quatro principais pesquisas de intenção de voto apresentam resultados diferentes, mas igualmente aceitáveis, a depender da preferência metodológica do observador. Não há movimentos estratégicos de grande visibilidade a empreender até que a campanha seja inflamada pelos horários gratuitos, no período que coincide com o final da Copa do Mundo de futebol.
E os dois lados têm suas razões.
Ninguém seria ingênuo a ponto de negar que a grande imprensa posiciona-se abertamente a favor de José Serra. Como ela é a principal origem das informações sobre a suposta crise na campanha de Dilma, há motivos para suspeitas. De fato, numa fase em que os partidos disputam alianças, a divulgação de que a petista enfrenta problemas vem a calhar para Serra. A expectativa de vitória atrai ou afugenta não apenas legendas menores e sem definições ideológicas, mas também boa parte do eleitorado indeciso. Por isso o PSDB investiu tanto em propaganda nos meses anteriores à desincompatibilização do ex-governador.
Não surpreende constatar, portanto, que muitas dificuldades atribuídas à candidata governista foram inventadas, distorcidas ou descontextualizadas. Na mesma medida, os equívocos de Serra desapareceram das coberturas. Parece que ele passeia, desenvolto, rumo à vitória inevitável. E, claro, a ilusória tranqüilidade contribui para sua nova imagem conciliadora.
Mas os defensores radicais da campanha dilmista cometem três equívocos de avaliação. Primeiro, assimilam a ilusão de que são indestrutíveis e, pior, inatacáveis: quem lhes faz o favor de apontar seus defeitos é tratado como inimigo figadal. Em seguida, jogam os problemas para colos alheios. Ou seja, as Polianas não admitem que a campanha de Dilma esteja em crise, mas se revoltam contra a inatividade do partido, quando, por exemplo, ele deixa de recorrer aos tribunais eleitorais. E, finalmente, se fecham nessa redoma de auto-suficiência e otimismo inabaláveis, rechaçando não apenas críticas, mas principalmente as contribuições externas.
Apenas essa postura infantil já demonstra que algo não vai bem na campanha de Dilma Rousseff. Sua vitimização passiva e ingênua leva à armadilha da auto-indulgência. De repente acreditamos que todas as pesquisas desagradáveis são mentirosas, que a pré-candidata não tem dificuldades de empatia e oratória, que os coordenadores políticos e de comunicação trabalham em plena sintonia, que ela está cercada de profissionais competentes e que os seus eventuais deslizes são invenções de malvados comentaristas tucanos.
A história mundial do sufrágio está repleta de eleições perdidas que um dia pareceram muito mais fáceis do que a imprevisível batalha de Dilma contra os poderes financeiros e midiáticos.
Um comentário:
Caro,
Concordo plenamente com sua análise. Apesar de em nosso Blog optarmos muitas vezes em adotar uma postura mais eufórica e debochada, essa eleição será uma guerra de batalhas diárias, e já aprendemos ao longo das últimas décadas, que nosso adversário, o PiG, joga sujo. Sem dúvida é fundamental que a campanha da Dilma tenha autocrítica. Precisamos apenas tomar cuidado para não darmos qualquer munição ao PiG. Pois eles transformam qualquer poerinha em escândalo. Todavia, a julgar pelas campanhas e pelas posturas de ambos os candidatos nas últimas entrevistas, acho que Dilma tem sido mais bem acessorada do que Serra. Mas o PiG jamais mostrará isso. Continuemos na luta companheiro!
Abs,
Vendedor de Bananas.
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