quinta-feira, 24 de março de 2011

“Um lugar qualquer”



Existe certa condescendência da crítica com a tal “estética da solidão”, termo abjeto que alguém inventou para defender filmes chatíssimos de lugares inóspitos. Sofia Coppola flerta há algum tempo com esse universo de planos longos e silêncios alusivos, e se tornou ao mesmo tempo inspiradora e vítima dos muitos farsantes que o povoam. Daí que é difícil discutir a importante obra da diretora segundo os critérios da subcultura blasé, “cabeça” e politicamente amorfa que se formou em torno da cinematografia de mostras e festivais.

Coppola domina a linguagem cinematográfica e sabe envolver o espectador com a força hipnótica de suas imagens. Não faz apenas cinema contemplativo. Busca o lirismo sem medo de soar piegas, pousa um olhar crítico mas generoso sobre a contemporaneidade, conhece o valor da ironia. E quase sempre consegue não ser entediante ao retratar o tédio de seus personagens.

“Um lugar qualquer” é uma versão familiar e autobiográfica do sensacional “Encontros e desencontros”: um casal de solitários (agora exilados no próprio país), a diferença de gerações, o exotismo do estrangeiro, a desolação emocional dos seres que povoam os bastidores da indústria do entretenimento, a falta de perspectivas, o amor paternal, a impossibilidade de concretizá-lo. Há passagens hilariantes e, ao gosto da diretora, uma trilha sonora inspirada. A química entre Stephen Dorff e Elle Fanning conduz o romance, entre aparições divertidas de gente famosa. É interessante notar a mudança de ritmo que sofre a narrativa durante as aparições da jovem Cleo.

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