Parte da blogosfera “progressista” continua avalizando material divulgado por veículos informativos que perderam credibilidade nos últimos anos. A atitude não é lamentável apenas pela incoerência de corroborar a mídia golpista que todos combatiam num passado recente. A reciclagem acrítica dos ataques a Antônio Palocci ignora as perguntas que deveriam ser respondidas antes de qualquer posicionamento (no mínimo, acerca de indícios de ilegalidade que justifiquem tamanha celeuma).
Dizem que o caso envolve o uso de informações privilegiadas em benefício particular. Só que a espinhosa discussão ética ultrapassa os limites do enriquecimento do ministro. Se alguém quer realmente discutir a atuação de lobistas e antigos funcionários públicos, este não é o primeiro nem o mais grave exemplo a investigar, mesmo na esquerda, inclusive no PT. E aposto que a maioria sequer declara seus rendimentos à Receita.
Faz sentido, sim, questionar a indignação seletiva de quem deixa Palocci virar croquete. Como repudiamos a hipocrisia daqueles que tentaram fazer do “mensalão” uma prática inédita e restrita à base de apoio do governo Lula, devemos rechaçar suas tentativas de transformar Palocci num bode expiatório da enorme fauna de intermediários que transita há décadas em todos os centros de poder. Da mesma forma, cabe indagar sobre a metamorfose dos analistas que antes partiam desse raciocínio para defender o governo Lula e agora embarcam na escandalolatria de mão única.
Acho meio jeca essa mania de querer que detentores de cargos públicos (parlamentares, por exemplo) sejam mal-remunerados ou depois abdiquem de atividades rentáveis permitidas por lei. Sempre que necessita de vilões, o noticiário explora a desinformação da platéia acerca dos valores negociados nas altas esferas da iniciativa privada, especialmente no mercado esotérico das consultorias, cujas fortunas são até maiores do que as recebidas por Palocci. E alguém acredita que os históricos defensores do liberalismo financeiro querem limitar os rendimentos ou fiscalizar as atividades dos seus valiosos engravatados?
Prefiro parecer um ingênuo defensor de Palocci ao risco ainda pior de ajudar a torrá-lo para satisfazer interesses nebulosos. E gostaria sinceramente que afastá-lo fosse levar a alguma evolução institucional ou mesmo política. Não sei se ele é inocente. Mas tenho certeza de que os seus adversários não estão de fato preocupados com isso.
2 comentários:
Valeu scalzilli, gosto das suas opiniões porque mostram independência de pensamento e acho que vc sempre encontra o equilibrio certo nas ponderações que faz, se posicionando de forma sensata sem cair em armadilhas que a tal esquerda progressista blogueira costuma cair.
Também não sei se Palocci é inocente ou não mas sei muito bem que fritar ele não vai mudar o nosso sistema político ou institucional e que os adversários dele não estão nada preocupados com isso. O pior é saber que esse roteiro é velho já....desde de 2003 a mesma ladainha!
Francamente, queria que vocês trabalhassem numa instituição pública para entender o que significa falta de ética e abuso de influência no cargo público e só assim entender o quanto isso prejudica o país. No mais, defender a falta de ética do Palocci que é igual ou menor do que qualquer outro tucano (ele sempre foi mais tucano que petista e sempre fez o jogo do mercado)é escorregar na armadilha da mídia. A mídia é sim a pior máfia, é o maior vilão, mas também é sem noção esse post.
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