Queria denunciar a bituca de cigarro acesa que alguém jogou de um escritório e caiu sobre o casal que conversava em pleno largo da Carioca. Lembrar que a tragédia no bondinho de Santa Teresa anunciava-se desde a Guerra de Canudos, época de sua inauguração. Dedurar as propagandas da prefeitura que se apropriam de obras bancadas pelo governo federal e sequer o mencionam. Chacotear o anedótico “metrô na superfície”, um simples busão com poucas paradas, e os mapas oficiais com estações imaginárias. Maldizer os engravatados que tentam furar a fila da esfirra na base da gíria malandra. Indagar por que os fiscais de trânsito precisam organizar cruzamentos em que os semáforos funcionam perfeitamente. Amaldiçoar os taxistas desvairados que ignoram qualquer lei, seja dos homens, seja da natureza. Lamentar a situação do centro antigo, arruinado pelo descaso das autoridades e da população. Xingar as intermináveis obras de encanamento que jogam os pedestres para cima dos motoristas insanos. Bradar contra a omissão generalizada perante a informalidade, o desrespeito, o improviso.
Mas então me lembro dos corvos que adoram desqualificar a cidade e suas pretensões a eventos internacionais. E dessa facção publicitária da esquerda, igualmente obtusa, que acha progressista confundir incivilidade com descontração e Estado de Direito com fascismo, e que impõe obstáculos sociais para toda política urbana imaginável, enxergando burgueses expropriadores em qualquer forasteiro indignado que ouse sugerir menos bagunça na sede das Olimpíadas. No final dá preguiça de levantar um debate que não tem como chegar ao necessário meio-termo, pois ele não interessa a nenhuma das facções adversárias. Talvez nem mesmo aos próprios cariocas.
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