Encontro nos arquivos riníticos um exemplar do finado caderno Mais! (Folha de São Paulo), no formato de tablóide. A data: 17 de setembro de 2000. A matéria de capa, “O grande herói americano”, é assinada por Gore Vidal.
Com seu texto sempre agradável e erudito, Vidal esmiúça como a desmoralização pública do mitológico aviador Charles Lindbergh (1902-74) serviu a “uma grande conspiração para conduzir um país essencialmente isolacionista à guerra”. E demonstra que o engajamento da sociedade estadunidense na luta contra Hitler foi construído com muitas intrigas de gabinete, lobbies industriais, campanhas subsidiadas na imprensa e até manobras de espiões britânicos sob a complacência da Casa Branca.
Sabe-se que o governo dos EUA tinha condições de antecipar o bombardeio a Pearl Harbor (1941) e minimizar seus estragos. Mas um desastre daquelas proporções era demasiado conveniente aos interesses belicistas locais, e milhares de pessoas foram sacrificadas para satisfazê-los.
O ensaio de Gore Vidal antecipa de maneira assombrosa as reflexões suscitadas pelos ataques seguintes ao país, também “surpreendentes” e oportunos, que ocorreriam um ano depois do seu texto sobre Lindbergh. Em algumas décadas, quando conhecermos os bastidores do 11 de setembro de 2001, as teorias conspiratórias voltarão a sair dos próprios arquivos governamentais.
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