sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

“Tudo pelo poder”



O grande problema desses dramas sobre bastidores da política profissional (quase um gênero hollywoodiano) é que sempre lhes falta uma ponta de verossimilhança: tudo soa claro, sistemático e agradável demais para a tortuosa realidade. “Entreatos” (João Moreira Salles) e documentários de temática similar retiram sua força justamente da incontornável complexidade humana que escapa às limitações narrativas ficcionais. Por isso os melhores registros do universo político são os que arriscam a farsa e a alegoria.

Ressalvas à parte, o filme de George Clooney proporciona uma alternativa satisfatória às bobagens natalinas que dominam o circuito. Diretor preciso e seguro, Clooney extrai boas atuações do elenco poderoso (encabeçado por Ryan Gosling, pré-candidatíssimo ao Oscar por uma das várias produções que lançou este ano) e exibe as referências corretas para o estilo, especialmente a do saudoso mestre Sidney Lumet.

O enredo, apesar das simplificações, parece refletir acerca do governo Barack Obama, figura sugerida pelo personagem do candidato democrata cujos ideais progressistas sucumbem ao pragmatismo eleitoral. O pessimismo da abordagem anuncia-se no título original (“meados de março”), que remete à data romana em que Júlio César foi assassinado, depois da famosa traição. É a Hollywood liberal tentando entender e exorcizar suas próprias decepções. Temos algo a ver com isso também.

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