sexta-feira, 20 de abril de 2012

“12 horas”



“Quando entreguei uma lista de trinta diretores de fotografia e ele [o produtor] me veio com dois nomes, e nenhum que eu havia citado, vi que tinha me fodido”, afirmou o diretor Heitor Dhalia à Folha. Mas ele aceitou as restrições, no que fez muito bem, pela experiência de realizar um projeto hollywoodiano.

Os problemas do filme sobressaem nas áreas que fugiram ao controle direto do cineasta. Ou seja, em quase tudo. O roteiro é fraquíssimo, e as exigências contratuais de segui-lo palavra por palavra seriam fatais para qualquer artista. Alfred Hitchcock, nas conversas com François Truffaut, conta como escapou de semelhantes amarras no início de carreira: entregava ao estúdio apenas as tomadas essenciais para a compreensão do enredo, sem opções de escolha, de forma que seu estilo se impunha mesmo com os piores textos. Mas atualmente é de se imaginar que os produtores tenham precauções para impedir esse tipo de rebeldia.

Salvo algum costumeiro defeito na cópia a que assisti, não vejo motivo para a satisfação expressa pelo diretor quanto aos filtros e lentes que disse ter podido escolher. Seus enquadramentos são eficazes, mas o conjunto da fotografia tem uma tonalidade esquisita, entre o sépia e o esverdeado, que talvez tenha sido inventada na pós-produção. Outro ponto fraco é o elenco de apoio, inutilmente povoado de rostos mais ou menos conhecidos, para criar a expectativa de uma surpresa final que não existe. Os investigadores beiram a caricatura. Amanda Seyfried, boa atriz, faz o que lhe permite a falta de um diretor com autonomia criativa.

Aprecio o juízo crítico de Inácio Araújo, mas ele se equivoca seriamente ao afirmar que este é o melhor filme de Heitor Dhalia. “12 horas” não está à altura de ótimos trabalhos autorais de um dos mais promissores cineastas brasileiros surgidos nos últimos anos. Mas tenho certeza de que a experiência foi insubstituível.

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