Notem como a imprensa corporativa se esforça para
suavizar os danos à imagem das operadoras de telefonia móvel depois da punição da Anatel. Chega-se ao cúmulo de culpar o governo federal pelo sistemático
desrespeito que as empresas reservam para seus clientes. Agora, coitadas, elas
são vítimas da agência.
Esse comportamento se deve apenas em parte ao
ranço oposicionista das redações. É importante lembrar que as teles estão entre
os maiores anunciantes da grande mídia, nos mais diversos formatos e suportes. Elas
fazem parte de um grupo de investidores pesos-pesados (junto com bancos, provedores
de internet, companhias aéreas, planos de saúde) que, mesmo encabeçando as listas de reclamações dos consumidores, desfrutam os misteriosos pruridos de
condescendência do bravo jornalismo investigativo. O limite das denúncias é o
bom andamento dos negócios.
Não que a Anatel seja imune a críticas. A escandalosa incompetência dos seus atendentes e analistas produz anomalias que
a má formação profissional é incapaz de explicar sozinha. A agência tem sido no
mínimo omissa diante de flagrantes irregularidades praticadas por prestadoras
dos serviços a ela submetidos, endossando precedentes de óbvia ilegalidade que
lesam milhões de usuários. As vendas casadas e a propaganda enganosa das
concessões de TV a cabo são exemplos corriqueiros, entre muitos, de abusos
chancelados pelo órgão.
Se o caos da telefonia atingiu um ponto que
ultrapassa até mesmo a inflexível tolerância estatal, podemos imaginar o
verdadeiro quadro da situação. Mas não convém esperar que ele ocupe as
primeiras páginas. O país vive à beira do colapso numa área que se tornou
símbolo da privataria tucana e do pretenso legado neoliberal modernizador dos
anos FHC. O lobby da telefonia esconde, portanto, mil tentáculos tenebrosos.
Um comentário:
Serviços caros e ineficientes, eis o legado principal daqueles anos de privatização irresponsável que marcaram o Brasil. Agora, nós estamos aí pagando essa conta, que não para de crescer. Nunca será tarde para tentar reverter o quadro de descaso e incompetência que caracteriza as operadoras locais.
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