A estrutura cíclica do roteiro, a lógica ordenadora
que dá sentido à aparente gratuidade dos episódios, é tema para muitas interpretações.
O respeitado roteirista Peter Morgan parte de uma peça de Arthur Schnitzler, mas
afasta-se do ambiente mundano e sombrio do escritor austríaco. Prefere sugerir reflexões
sobre a contemporaneidade, buscando um tom “pós-moderno” já bastante
identificado com o gênero das histórias paralelas que se cruzam em diversos
países e circunstâncias.
O diretor Fernando Meirelles acrescenta ao texto o
que lhe falta de originalidade e sutileza. Explora as possibilidades visuais de
cada situação, valorizando os detalhes das interpretações dos atores, sempre contidos,
verazes, despidos de maneirismos. Certos momentos de improviso chegam a
transparecer, mas ganham sentido de urgência e intimidade através da
excelente fotografia de Adriano Goldman. Soa quase implausível que as imagens
granuladas vêm de uma opção estética pelo 16 mm.
Meirelles não sucumbe ao peso do elenco estelar,
como fariam outros diretores menos seguros e experientes. Quase todas as composições
parecem irrepreensíveis. Anthony Hopkins (que escreveu e interpretou o tema musical
do seu personagem) e Ben Foster sobressaem no ótimo conjunto, formado por
atores conhecidos de várias nacionalidades. Utilizar os idiomas originais e evitar
o mero desfile de cenários turísticos foram decisões sábias que enriqueceram o
resultado final.
Meirelles publicou um interessante diário sobre as
filmagens.
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