segunda-feira, 27 de agosto de 2012

De menor

















O hábito de pedir documento para qualquer comprador de bebida alcoólica é bem menos freqüente do que as ocorrências localizadas fazem parecer. Uma velhinha tendo de exibir seu erregê vira notícia, com razão, pelo esdrúxulo da cena. Mas não só por isso: a manchete fornece uma imagem positiva da administração demo-tucana estadual e ajuda a eximi-la do eventual fracasso da fiscalização.

Claro que podemos abordar a questão por seu aspecto mais simples e consensual, o da necessidade de impedir o acesso de crianças e adolescentes a bebidas alcoólicas. Se o governo tivesse tal preocupação, porém, seria desnecessário achacar aposentados. Proibição dessa antiguidade já teria criado uma rotina que garantisse a sua observância.

O fato é que tudo não passa de propaganda. O ritual intimidador dos fiscais, a ostentação de panfletos e adesivos, a divulgação gratuita pelo noticiário e até a bronca popular são versões governamentais de estratégias usadas pelas agências publicitárias. Idéia engenhosa, principalmente porque impune, que já havia servido para alavancar a candidatura presidencial de José Serra a pretexto de combater o cigarro.

Em ambos os casos, milícias paisanas de servidores públicos espalham as inverdades e as ameaças necessárias para que os estabelecimentos adiram à campanha do governo. E há sempre a motivação de uma canetada meio autoritária, levemente inconstitucional, que a sociedade tolera, pois, afinal, é chique ser maltratado por déspotas abstêmios. Depois de um período no limbo jurídico (e dependendo da aceitação popular), alguém dará um jeito de salvar o arbítrio da ilegalidade.

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