O hábito de pedir documento para qualquer
comprador de bebida alcoólica é bem menos freqüente do que as ocorrências
localizadas fazem parecer. Uma velhinha tendo de exibir seu erregê vira
notícia, com razão, pelo esdrúxulo da cena. Mas não só por isso: a manchete fornece
uma imagem positiva da administração demo-tucana estadual e ajuda a eximi-la do
eventual fracasso da fiscalização.
Claro que podemos abordar a questão por seu aspecto
mais simples e consensual, o da necessidade de impedir o acesso de crianças e
adolescentes a bebidas alcoólicas. Se o governo tivesse tal preocupação, porém,
seria desnecessário achacar aposentados. Proibição dessa antiguidade já teria
criado uma rotina que garantisse a sua observância.
O fato é que tudo não passa de propaganda. O
ritual intimidador dos fiscais, a ostentação de panfletos e adesivos, a
divulgação gratuita pelo noticiário e até a bronca popular são versões
governamentais de estratégias usadas pelas agências publicitárias. Idéia
engenhosa, principalmente porque impune, que já havia servido para alavancar a
candidatura presidencial de José Serra a pretexto de combater o cigarro.
Em ambos os casos, milícias paisanas de servidores
públicos espalham as inverdades e as ameaças necessárias para que os
estabelecimentos adiram à campanha do governo. E há sempre a motivação de uma
canetada meio autoritária, levemente inconstitucional, que a sociedade tolera,
pois, afinal, é chique ser maltratado por déspotas abstêmios. Depois de um
período no limbo jurídico (e dependendo da aceitação popular), alguém dará um jeito de salvar o arbítrio da ilegalidade.
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