sexta-feira, 19 de outubro de 2012

“Ruby Sparks”



















Segundo filme de Jonathan Dayton e Valerie Faris (“Pequena Miss Sunshine”), veteranos realizadores de videoclipes. O tom familiar desta comédia romântica, talvez adocicado em demasia, espelha os relacionamentos dos diretores e dos protagonistas, casais de fato.

Paul Dano e Zoe Kazan (neta do lendário Elia e autora do roteiro) conseguem superar as dificuldades dos respectivos papéis. O elenco secundário é apenas mediano, porém, com destaque especial para Elliot Gould e Steve Coogan. A fotografia cabe ao sempre competente Matthew Libatique, de “Cisne Negro”.

O despojamento realista contribuiu muito para o sucesso da cultuada estréia de Dayton e Faris. Mas essa abordagem não consegue superar a ortodoxia estrutural do novo texto, que, apesar de seus diálogos afinados, restringe as boas possibilidades da premissa. Para lembrar um autor bem-sucedido no mesmo registro fantasioso (pós-surrealista?), o que diferencia os roteiros de Charlie Kaufman é a audácia de explorar a idéia inicial até a hipérbole e o desvario.

Um escritor que inventa uma personagem-namorada que também é uma escritora que por sua vez também manipula esse personagem-namorado-escritor segundo os desejos dele próprio, jogando-o num labirinto de projeções inconscientes que fogem ao poder racional do rapaz – eis um exemplo de coragem narrativa kaufmaniana, que teria salvado “Ruby Sparks” das amarras do gênero.

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