Vencedor em Cannes e no César do ano passado. Produzido
pelos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne (“O silêncio de Lorna”), guarda com a
obra deles uma curiosa semelhança de atmosfera, tom e ritmo. E o ator
principal, Olivier Gourmet, esteve em quase todos os seus filmes.
A emblemática seqüência de abertura sintetiza os
dilemas do protagonista, composição marcante de Gourmet. O excepcional Michel
Blanc aparece generosamente contido e delicado, salientando a personalidade peculiar
do outro.
O roteiro vence as dificuldades inerentes aos filmes sobre bastidores políticos através de um roteiro enxuto, que não teme assuntos
grandiosos (poder, amizade, ética, moral), e do tratamento hiper-realista e
desglamurizado. Tudo termina soando verossímil além do paroxismo, como se já não
estivéssemos no campo fantasioso, ou como se a consciência da farsa não
servisse mais de escape ou consolo, pois imediatamente admitimos que “é assim
que as coisas são”.
Filme intrigante, às vezes difícil, que serve como
um bom argumento contra esse povo provinciano que elogia o ambiente governamental
dos países europeus (ou dos EUA) sem saber que as práticas daqui, tão
repudiadas, se repetem por todo o planeta. Mas será uma visão pessimista da realidade política e dos
negócios de Estado? Por que deveríamos tomar negativamente o fato de que o
pragmatismo domina (também) esse universo? Não seria mais fácil aprimorá-lo se o
enxergássemos livre de máscaras idealistas e pruridos farisaicos?
E por aí vai...
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