A matéria de capa da Folha de São Paulo de ontem fedeu
a jabá dos mais brabos. Começou pela manchete distorcida, que selecionava
apenas um aspecto da pesquisa em questão. “Metade repudia projeto que limita a
meia-entrada” também seria fiel ao levantamento, de resto bastante discutível
quanto à relevância estatística.
Mas a tendência elogiosa ao limite de 40% para os
ingressos vendidos com desconto saltou aos olhos: duas análises contrárias à
meia-entrada (nenhuma favorável) e textos “informativos” que reproduziam as
posições dos produtores e aproveitavam para citar defeitos do sistema vigente.
Não havia uma linha sequer abordando idéias para
conferir ao benefício um caráter socialmente inclusivo. Ninguém na redação da
Ilustrada se deu ao trabalho de investigar os custos dos eventos culturais e
esportivos, e até que ponto eles determinam o preço final para o espectador.
Tampouco apareciam dados sobre outros países, num jornal sempre tão afeito a
comparações internacionais.
Pouco importa se a meia-entrada vai acabar, nos
moldes questionáveis que possui atualmente. O problema é fingir que o lobby dos
produtores não atua com esse objetivo e que a promessa de redução de preços dos
ingressos tem a mínima base matemática. Aí já vira safadeza, especialmente
porque o logro recebe o apoio de artistas e de uma entidade que deveria
representar os estudantes.
Sem um debate minimamente sério, o projeto dos 40%
se revela apenas uma estratégia para aumentar os lucros de certa fração empresarial.
Basta assumir esse fato, mantendo o interesse público na irrelevância de
sempre.
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