Dilma Rousseff tinha algumas alternativas para
responder às manifestações populares. Todas variavam de acordo com o
posicionamento que o governo federal assumiria em relação aos protestos.
O sonho da imprensa oposicionista era (continua
sendo) a presidenta vestir a carapuça de alvo dos ataques, defendendo-se deles
e depois os confrontando até centralizá-los contra si. Habilmente, porém, Dilma
preferiu adotar as demandas genéricas das ruas: assimilou sua natureza
reformista e seu anseio por melhores formas de representação.
A idéia da reforma política não apenas coaduna com
as expectativas professadas pelos descontentes, mas acima de tudo evidencia
seus próprios limites no Estado democrático de Direito. Apenas o imediatismo
golpista acredita em soluções abruptas, verticais e impositivas para um dilema
dessa envergadura.
Qualquer pessoa com entendimento básico dos
Poderes republicanos sabe que as difusas transformações estruturais pleiteadas,
inclusive a própria maneira de adotá-las, cabem ao Congresso Nacional. Nada
mais justo do que Dilma lhe entregar a incumbência de atender aos desejos dos
eleitores. E nada mais coerente, da parte dos indignados, que focar suas
reivindicações onde elas podem ser atendidas.
Sem uma Assembléia exclusiva, a única
possibilidade de mudança real no regramento da atividade política viria de um
plebiscito que provocasse ou norteasse os legisladores. Um eventual referendo posterior
serviria apenas para endossar as alterações tímidas e paliativas que os parlamentares
julgassem convenientes. Não haveria reforma alguma.
É tolice fabricar frustrações por causa dos prazos
e das vigências da consulta popular. Mesmo que ela incida sobre as eleições de
2016, representará uma conquista histórica para a agenda progressista,
eternamente ignorada pelo Congresso. E o tempo maior de discussão pública solidificaria
sua legitimidade.
Enxergar na dilatação do prazo uma derrota do
governo federal equivale a chamá-lo de oportunista na hipótese de aplicação instantânea.
Ambos são discursos prontos da mídia corporativa para abafar o inevitável ganho
político do governo federal com a materialização da proposta.
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