Noah Baumbach é um ótimo criador de personagens e
diálogos, talento que marca toda sua obra, em especial “A lula e a baleia”. Além
do apurado uso do detalhe, tem o grande mérito de evitar certas estilizações
próprias do universo independente, permitindo que o roteiro e os atores ocupem
o centro das atenções.
Talvez seja por causa dos aspectos autobiográficos
do texto que ajudou a criar, ou pela sempre delicada condução que Baumbach
mantém do improviso, mas o fato é que Greta Gerwig confere graça e carisma
quase irresistíveis à sua Frances. É impossível imaginar outra atriz nessa
personagem tão frágil e simpática.
A fotografia em preto e branco rende assumida
homenagem à Nouvelle Vague francesa, especialmente “Jules et Jim” (François
Truffaut). Todo o registro possui uma leveza formal, quase uma descontração,
muito característica daquele movimento. Mas é inevitável lembrar também do
olhar nostálgico sobre Nova York de “Manhattan” (Woody Allen), embora sem o
mesmo apuro estético.
O suporte digital explora no limite as
possibilidades de manipulação dos brilhos e contrastes. Muita “noite americana”
(por falar em Truffaut) e interessantes penumbras, que beiram a escuridão
total. Os limites da técnica sobressaem às vezes, mas contribuem para o clima despojado
da obra. Despojamento ilusório, diga-se, pois os movimentos internos possuem
uma precisão coreográfica.
E há a trilha sonora delicada, engrandecida por
“Modern Love”, de David Bowie.
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