sexta-feira, 6 de setembro de 2013

“Frances Ha”


















Noah Baumbach é um ótimo criador de personagens e diálogos, talento que marca toda sua obra, em especial “A lula e a baleia”. Além do apurado uso do detalhe, tem o grande mérito de evitar certas estilizações próprias do universo independente, permitindo que o roteiro e os atores ocupem o centro das atenções.

Talvez seja por causa dos aspectos autobiográficos do texto que ajudou a criar, ou pela sempre delicada condução que Baumbach mantém do improviso, mas o fato é que Greta Gerwig confere graça e carisma quase irresistíveis à sua Frances. É impossível imaginar outra atriz nessa personagem tão frágil e simpática.

A fotografia em preto e branco rende assumida homenagem à Nouvelle Vague francesa, especialmente “Jules et Jim” (François Truffaut). Todo o registro possui uma leveza formal, quase uma descontração, muito característica daquele movimento. Mas é inevitável lembrar também do olhar nostálgico sobre Nova York de “Manhattan” (Woody Allen), embora sem o mesmo apuro estético.

O suporte digital explora no limite as possibilidades de manipulação dos brilhos e contrastes. Muita “noite americana” (por falar em Truffaut) e interessantes penumbras, que beiram a escuridão total. Os limites da técnica sobressaem às vezes, mas contribuem para o clima despojado da obra. Despojamento ilusório, diga-se, pois os movimentos internos possuem uma precisão coreográfica.

E há a trilha sonora delicada, engrandecida por “Modern Love”, de David Bowie.

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