Desde o primeiro enquadramento percebemos que se trata
de obra diferenciada: um rosto em primeiríssimo plano, focado apenas na superfície,
com um fundo rosa, faz uma declaração apaixonada para o espectador. No final da
cena, alguns minutos depois, estamos completamente imersos naquele mundo
estranho, seduzidos pelo protagonista, atados ao desenvolvimento do excelente
roteiro.
Há grande engenho na maneira como o universo futurista
se impõe quase apenas através de elementos visuais, sem narrações em off,
letreiros explicativos ou didatismos vãos. A questão “científica” desempenha um
papel secundário, limitado a viabilizar as reflexões propostas pelo enredo, profundamente
humano e universal. Os trabalhos primorosos de Hoyte van Hoytema (“O espião que sabia demais”) na fotografia e de Austin Gorg na direção de arte são fundamentais
para esse esforço.
Um elenco menos competente mataria a base de
verossimilhança imprescindível para a delicadeza da narrativa. Mas a entrega do
quarteto central (Joaquin Phoenix, Amy Adams, Scarlett Johansson e Rooney
Mara) e o talento de Spike Jonze ultrapassam qualquer expectativa a respeito.
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