“Clube de compra Dallas”
Minha velha antipatia por Matthew McConaughey já
havia dissipado na surpreendente série “True Detective”, então agora parece inevitável
reconhecer que os muitos prêmios que ele e Jared Leto receberam foram bastante
justos. Porque não envolvem apenas a transformação física, em si assombrosa,
mas também a construção de personagens difíceis, sob tensão emocional
permanente.
As muitas licenças factuais do roteiro não o
enfraquecem, por conta da habilidade ao evitar o melodrama que poderia
estragá-lo. E é sempre agradável assistir a uma produção de parcos recursos
financeiros que atingiu visibilidade global graças à história e ao talento dos
envolvidos, apesar do tema incômodo.
Não se deve perder de vista a relevante denúncia contra
os lobbies da indústria farmacêutica nos EUA, que possui desdobramentos tão amplos quanto perniciosos.
“Nebraska”
Bem diverso é o registro de Alexander Payne, voltando
ao universo familiar de “Os Descendentes”. Aqui há humor, sutileza, um nítido
esforço de contenção destinado a minimizar todas as possibilidades emotivas do
enredo.
Bonita fotografia estilizada em preto e branco,
cheia de contrastes e planos gerais, que lembra os trabalhos do mestre Robby Müller. A escolha deve muito ao propósito de suavizar a dramaticidade do conjunto
visual, mas também revela uma eficaz adequação ao universo dos filmes de
estrada, gênero a que “Nebraska” se associa com raro lirismo.
Bruce Dern, que recebeu um merecido prêmio em
Cannes, garante a força humana da produção. E também June Squibb, e o sempre
ótimo Stacy Keach, que andava sumido. Mas é o elenco de apoio que dá um grau
extra de verossimilhança à história, com seus tipos divertidamente simples e comuns.
Uma reflexão sobre o envelhecimento, a memória, as
raízes, a amizade. E sobre a credulidade num planeta irrevogavelmente
hipócrita.
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