segunda-feira, 27 de abril de 2015

Vendetta


















A imprensa corporativa tenta fazer da extradição de Henrique Pizzolato um aval dos painhos europeus à farsa justiceira de Joaquim Barbosa. É fácil perceber a fragilidade da versão e o nível do jornalismo que a endossa.

A decisão retalia a negativa brasileira em deportar Cesare Battisti. O caso constrangeu o governo italiano, ferido no orgulho nacionalista e na imagem de lisura das suas instituições judiciais. O troco viria na melhor oportunidade, e não é demasiado supor que a captura de Pizzolato rendeu esforços dobrados para servir a esse propósito.

Paradoxalmente, devolver o embaraço ao Planalto exigia certa violação do princípio diplomático da reciprocidade. Tratado lá como Battisti foi aqui, Pizzolato ficaria na Itália. E mancharia ainda mais a sanha condenatória do STF no tal “mensalão” petista, admitindo a dúvida cruel acerca de um julgamento viciado.

O grande estímulo da retaliação é causar desconforto na sociedade brasileira pelo governo Dilma não seguir o exemplo, recusando-se a deportar Battisti. O fato de os italianos atingirem esse objetivo contrariando hábitos e normas das relações internacionais e usando a justificativa de “virar a página” prova a malícia do gesto.

A luta do nosso Ministério Público para servir como instrumento de vingança geopolítica estrangeira é um retrato da esquizofrenia institucional que abala o Judiciário. O aplauso acrítico da mídia sugere até onde isso pode chegar.

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