Publicado no Brasil 247
Há muito sabemos que a constituinte
exclusiva é o meio mais democrático e transparente de realizar as mudanças
necessárias no sistema político brasileiro, especialmente as normas do processo
eleitoral. Escolhendo representantes para essa tarefa específica, o cidadão
pode analisar e discutir suas propostas pontuais, sem a interferência de outros
apelos oportunistas.
Os detratores da proposta alegam que o Congresso
já possui tais prerrogativas. É um argumento malicioso. Primeiro porque os
parlamentares não se comprometeram com essa função durante as candidaturas, nem
precisaram explicitar posicionamentos a respeito. Segundo, e mais importante,
porque eles jamais extirparão privilégios ou contrariarão interesses
poderosíssimos que os beneficiam.
Eis os motivos óbvios de no mínimo submeter o tema
a plebiscito. Se o poder dos congressistas emana do povo, a ele caberia também
decidir a extensão prática dessa competência. Nem isso pareceu aceitável aos
puristas, que certamente adivinhavam o resultado da consulta. Sempre vigilantes
na demonização do Legislativo, preferiram sabotar a única via possível de moralizá-lo
um pouco.
O resultado está aí: um pacote de medidas discutíveis
que não alteram a essência viciada do mecanismo sufragista e que foram impostas
à sociedade através de negociações comandadas pelo inclassificável Eduardo
Cunha. Tudo a toque de caixa, traindo acordos prévios e violando a Constituição.
É interessante notar o sumiço repentino dos
adversários da participação popular na reforma política. Eles só estavam preocupados
com o desgaste do governo federal, em detrimento do benefício coletivo. Exigiram
maior representatividade apenas quando o Planalto parecia incapaz de aprimorá-la.
Bastou aparecer uma alternativa e correram defender a própria falta de
representatividade.
Não surpreende, portanto, que aceitem as migalhas
da farsa reformista. A campanha contra a constituinte e, depois, as manifestações de rua conclamadas pela mídia, visavam justamente inviabilizar
as mudanças propostas pela esquerda. Mantidas as coisas como estavam, os
conservadores respiram aliviados.
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