As próximas manifestações promovidas pela imprensa corporativa e por setores da direita organizada marcam a etapa culminante da agenda golpista. O resultado publicitário do movimento norteará as manobras institucionais do impeachment.
Essa lógica soa trivial, mas é tão séria e
elucidativa que tem sido sistematicamente ocultada pela mídia. O projeto da
deposição de Dilma Rousseff precisa do apelo das ruas porque, sozinho, nas
esferas judiciais e legislativas, tende ao fracasso.
Não porque faltem oportunistas antidemocráticos no
Judiciário e no Congresso, pelo contrário, mas porque essas facções não
conseguiram inventar bases razoáveis para o impedimento. E ninguém está
disposto a assumir a conta de um golpe descarado que se apóie em ilações e
trivialidades técnicas.
A dificuldade transparece na mudança de postura
dos organizadores dos atos, que passaram a exigir a renúncia da presidente.
Então os próprios indignados perderam a convicção na tese do afastamento
inevitável? Agora Dilma só sai se quiser?
Toda essa esquizofrenia parece diluir-se na imagem
positiva e solene que a imprensa fornece das passeatas. A propaganda do
fenômeno popular espontâneo serve de escudo para o envergonhado ímpeto
antidemocrático dos seus líderes.
Mas a estratégia tem um problema difícil de
resolver: quanto mais radicalizados ficam os manifestantes (e o submundo
violento que os acompanha), menos atraentes eles se tornam para as pretensões
salvacionistas do golpe. Em outras palavras, escancaram a verdadeira essência
do golpismo de gabinete.
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