Ocorre algo estranho com certas análises de
conjuntura alinhadas ao repertório progressista. Elaboram argumentos refinados
sobre a crise política, fazem balanços críticos de um lado a outro, lamentam o
fracasso da administração Dilma Rousseff e defendem utopias pós-modernas
bacanas. A questão é que jamais denunciam de maneira clara e direta o projeto
do impeachment.
Compreendo que os autores tentem se esquivar da tenebrosa
pecha de petistas. Mas a maneira como o fazem dá a impressão de que, no fundo
de suas boas almas acadêmicas, borbulha o mesmo antipetismo hidrófobo dos
brucutus de camiseta amarela.
Pesquisando os repertórios da turma, vemos que a
maioria apoiou Marina Silva nas eleições passadas. E, com algum motivo (mas
também exagerando provincianamente o fato), odeiam a desconstrução que a candidata sofreu na disputa. Isso explica o ar blasé com que tratam a ameaça do
golpe: “bem feito, Dilma, agora toma”.
O comportamento aparece em vastos setores da
esquerda, principalmente no PSB e na própria Marina. Todos parecem aceitar que
suspeitos de bandidagem, paus-mandados de coronéis e oportunistas filisteus
derrubem uma presidente honesta porque ela manobrou recursos para manter
programas sociais. Sem prejuízo final para o erário.
Sim, estão “preocupados”, continuam “democratas”, querem
“justiça”. Convenhamos, porém, que tais pruridos são bastante modestos para gente
que se diz libertária e que vive denunciando o pragmatismo conservador do PT.
Talvez respondessem que Dilma é igual a seus
algozes. Mas, como vemos, tampouco essa esquerda antipetista se diferencia deles.
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