segunda-feira, 21 de março de 2016

Lula ministro

 

A princípio lamentei a ideia, que me parecia demasiado negativa para a imagem de Lula e temerária do ponto de vista jurídico. Desconfiava também que a oposição queira arrastá-lo para o núcleo governista, abatendo todos juntos numa única investida, com o reforço valioso do Congresso Nacional.

Importante salientar que essa questão jamais envolveu problemas de cunho moral. Lula não é réu, nem sequer indiciado, e tem tanto direito de ser ministro quanto qualquer cidadão do país. Mais até do que muitos parlamentares, governadores, prefeitos e secretários que exercem os cargos mesmo sendo alvos de processos.

Ainda que houvesse aí um dilema ético, o Judiciário tratou de resolvê-lo. A perseguição a Lula virou uma farsa kafkiana, tomada pelo ressentimento, onde as provas e o bom senso ocupam lugar secundário. A tal ponto que o discurso “legalista” só vê o foro privilegiado e ignora os escandalosos desvios legais dos grampos de Sérgio Moro e da Polícia Federal.

Mas o grande aval à ida de Lula para a Casa Civil foi dado pelo próprio desespero em barrá-la. O ex-presidente afinal configura uma ameaça ao golpe liderado por Eduardo Cunha. E, talvez ainda mais importante, pode ganhar aquele papel pacificador que tanto seduziu os oportunistas conspiradores.

Os desvarios do golpismo fizeram do ministério de Lula a trincheira final para a tentativa de destruí-lo. Anularam, portanto, os últimos resquícios técnicos do seu justiciamento, dando-lhe um caráter essencialmente político. Permaneço em dúvida sobre os resultados, mas admito ser a única maneira de tornar a disputa menos desigual.

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