segunda-feira, 25 de abril de 2016

O conspirador bonzinho
























Subproduto do marketing da crise irremediável, a lacuna de um pacificador nacional moldou a narrativa midiática em torno de Michel Temer. Sábio, moderado, arguto negociador, sua imagem foi sendo lapidada para atender às exigências da conspiração desde que o impeachment virou uma espécie de campanha eleitoral indireta.

O primeiro gesto da candidatura foi a carta a Dilma Rousseff, que visou fazer do peemedebista a vítima inocente de um governo que ele sugou o quanto pôde. Incapaz de se apresentar como alternativa, a oposição buscava o testa de ferro (ironia máxima) no seio do próprio governismo. Mas era necessário descolar um do outro.

O segundo ato surgiu no discurso vitorioso antecipando a posse como presidente. Na sua “carta de intenções”, Temer reforçava aquele personagem aglutinador e ponderado que traria de volta a governabilidade. Um personagem acima de tudo poderoso, capaz de cumprir os compromissos firmados na Câmara.

Ambas as peças retóricas compartilharam o estilo cínico e ardiloso de divulgá-las, em vazamentos oportunistas, feitos através da mídia corporativa. Elas também evidenciam que a participação de Temer no golpe foi antiga, calculada e direta, desautorizando as versões de que teria apenas atendido ao chamado da oposição.

Agora surge a exposição machista de sua esposa, contrapondo a personalidade forte de Dilma e aproximando Temer do eleitorado conservador. Dizem que a reportagem de Veja parece dos anos 1950, mas é erro de cronologia: ela pertence mesmo a 1964.

Essa nova etapa do movimento propagandístico destina-se a melhorar a baixíssima aprovação popular de Temer e a reverter a sensação de que a Lava Jato virará uma enorme pizza judicial. No embalo, atrair o PSDB reticente e envolver os senadores no clima de fato consumado.

As tais “pontes para o futuro” do programa peemedebista apenas dissimulam a verdadeira disputa em jogo. Golpes, por definição, dispensam plataformas. O futuro imediato do projeto Temer Presidente exige dissipar a sombra de inconfiabilidade que paira sobre ele desde a repugnante traição política que viabilizou o processo do impeachment.

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