Como em toda competição internacional, a turma do provincianismo vira-latas tentará desmoralizar os resultados da delegação
brasileira nos Jogos Olímpicos do Rio. Agora, por motivos óbvios, com fúria
redobrada.
O ramerrão é previsível: contas descabidas forjando
custos exorbitantes por medalha, fracasso de expectativas supervalorizadas, comparações
absurdas com outros países.
Não defendo o ufanismo cego, nem reduzo toda
crítica a ressentimento antipatriótico. Apenas cobro consistência argumentativa,
a partir de duas premissas complementares.
Primeiro, uma base conceitual e estatística
sólida. A referência a qualquer exemplo internacional demanda conhecer seus
programas de apoio, suas legislações específicas, os valores aplicados em cada
modalidade, etc.
Segundo, a adoção de um modelo coerente de
investimento, sem esquizofrenias sobre o papel do Estado no incentivo ao setor.
Queremos que o esporte de ponta ganhe prioridade no uso do dinheiro público? Ou
medalhas são responsabilidade da TV Globo, da Adidas, do Bradesco, da Vale?
Também é necessário superar o mito da formação de
atletas olímpicos como trabalho de base apenas sócio-educativa. Se alto
rendimento esportivo dependesse da qualidade da educação e da saúde oferecidas
aos cidadãos comuns, os melhores IDHs do mundo seriam campeões de medalhas
olímpicas.
Não resta dúvida sobre a importância do esporte
para a infância e a juventude, mas pódios exigem mais do que diletantismo e popularidade. Exigem instalações modernas, equipamentos de última geração, laboratórios
avançados, especialistas, suporte incondicional da mídia. Em suma, um tratamento
digno de estratégia geopolítica.
Eis o núcleo indigesto do debate sobre nosso rendimento
olímpico. Antes de aderir a politizações oportunistas e achismos simplórios, a
cobrança por medalhas precisa levar em conta o nível de sacrifício e
comprometimento necessários para se construir o idílio esportivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário