segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Sobre as eleições municipais


















A direita exagera seu triunfo nas disputas municipais. Observando os mapas históricos, notamos dois fatores: a) jamais houve “onda vermelha” nessa esfera, desautorizando a hipótese da “onda” contrária; b) o resultado atual configura um rearranjo partidário de vitoriosos no mesmo campo ideológico tradicionalmente hegemônico.

Em outras palavras, confirmou-se o antigo predomínio regional da centro-direita, com pequena variação positiva. No quadro geral, só a perda acentuada de votos do PT se destaca pontualmente. Ela pode refletir menos um fortalecimento do PSDB do que o avanço das legendas pequenas que nasceram depois de 2012 (SD, PROS, PEN, etc.).

A derrota do PT foi mais notável nos grandes centros urbanos, palcos do imenso esforço propagandístico e financeiro das passeatas pelo impeachment. Ao mesmo tempo, o volume de votos inválidos (quase um terço do eleitorado) e a ascensão de candidatos sem experiência partidária sugerem que parte do antipetismo adquiriu uma face “antipolítica” apenas circunstancialmente ligada às rivalidades usuais.

De qualquer forma, é impossível estabelecer conexões causais de resultados em escopo tão vasto e complexo. Os arranjos das coligações, a influência de governadores e o fisiologismo do governo ilegítimo (que negociou o golpe  com os interesses eleitorais dos parlamentares) suplantam qualquer diagnóstico generalizante.

Cada processo eleitoral tem lógicas próprias que não podem ser ignoradas. Cito o exemplo de São Paulo, que tem servido erroneamente de modelo para abordagens conjunturais amplas. Ali, os seguintes aspectos precisam ser considerados:

- Tempo de rádio e TV: João Doria montou extensa coligação partidária, que resultou em maior exposição midiática e ampliou seu índice de reconhecimento.

- Dinheiro: graças às novas regras eleitorais, a riqueza pessoal de Doria deu-lhe enorme vantagem diante da falta de recursos de Fernando Haddad.

- Comunicação: Doria explorou um perfil alinhado ao ceticismo político do eleitor. Haddad chegou fragilizado pela sistemática propaganda negativa da imprensa paulistana, além de ter feito um governo com promoção institucional muito ruim.

- Estratégia: enquanto Haddad lutava para se garantir no segundo turno, Doria (com auxílio dos institutos de pesquisa) priorizou o arremate da disputa no primeiro.

- Arco de candidaturas: nas periferias, Doria se beneficiou com o desgaste mútuo de nomes fortes nessas regiões; no “centro expandido”, com o antipetismo militante das classes médias.

Por fim, parece urgente um debate sério acerca da proibição de financiamento empresarial de campanhas. A individualização do caixa dois e o favorecimento de candidatos com maior patrimônio são duas consequências da canetada que trazem um preocupante viés antidemocrático ao processo eleitoral.

Talvez esse tema entre nas pautas midiáticas, assim que decantar o cinismo festivo dos analistas.

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