segunda-feira, 24 de julho de 2017

A estratégia de Marina fortalece Bolsonaro


Ganha ressonância nos círculos marinistas a narrativa de que a candidatura Lula pode levar à vitória de Jair Bolsonaro em 2018. O ódio ao petista incentivaria a polarização do cenário e culminaria num inevitável triunfo da extrema direita no segundo turno.

Por enquanto é apenas propaganda eleitoral de Marina Silva, ou melhor, um teste visando aprumar seu discurso de campanha. Para deixar a esfera do pensamento desejoso e alcançar status de hipótese razoável, seria necessário avaliar duas premissas básicas: a existência de segundo turno e as chances reais de Bolsonaro.

Num ambiente de rejeição maciça à política, a perspectiva de uma vitória do petista ou de um aliado seu no primeiro turno é mais do que plausível. Parte da rejeição a Lula será transferida para abstenções ou votos nulos e brancos, enquanto a aliança petista começará com um terço do eleitorado garantido. Bem perto da metade do contingente “útil”.

Como antecipei em outro artigo, o pretendente a Trump brasileiro virá de uma estrutura partidária ampla, sólida e profissionalizada. Algo que só existe no consórcio golpista, mais precisamente nos setores beneficiados com a Lava Jato, embalados no antipetismo das hordas verde-amarelas. Em resumo, o PSDB de São Paulo.

Mesmo na improvável hipótese de formar uma coligação abrangente, Bolsonaro não tem perfil de candidato à presidência. Sua “plataforma” é autodestrutiva, caricata, fadada a um nicho irrelevante em nível nacional. E a figura não sobrevive a uma semana de rolo compressor da mídia alinhada ao tucanato paulista.

É fácil perceber por que os planos de Marina dependem tanto de mudanças no quadro sucessório. Ela se encaixa mal num antagonismo PT x PSDB. Não monopoliza nem o miolo conciliador nem a defesa da Cruzada Anticorrupção. Tampouco está nos planos da direita organizada, já em dificuldade para satisfazer todas as suas facções.

O eventual crescimento de Bolsonaro seria fundamental para afirmar a relevância do “centrismo republicano” de Marina. O fenômeno diminuiria as chances de vitória petista no primeiro turno e embolaria a disputa pela outra vaga na reta final. Mas, principalmente, ajudaria a ex-ministra a preencher o vazio pragmático de seu discurso antitudo.

A estratégia de Marina fortalece Bolsonaro simbolicamente, no sentido de lhe conferir uma força que ele não tem, de reforçar a sua ilusória viabilidade eleitoral. Por tabela, faz de Lula um vilão coadjuvante da escalada reacionária, insuflando a militância a atacá-lo sob o pretexto do bem maior. A contribuir, portanto, com a pauta da direita.

Se isso é tudo que o projeto marinista pode acrescentar ao debate eleitoral, talvez fosse menos vexatório imitar o resguardo silencioso de sua líder.

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