segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Rossi e Schwartsman ilustram a ética arbitrária da Lava Jato



Clóvis Rossi comparou o lulismo a uma seita de fanáticos que se negam a admitir os crimes do líder. Poucos dias depois, na mesma Folha de São Paulo, Hélio Schwartsman esboçou raciocínio parecido, levando-o para o campo da ideologia. E insinuou que Lula seria “o Maluf da esquerda”. 

Os autores possuem reconhecidas condições técnicas e intelectuais para saberem que as delações de Sérgio Moro são inconclusas e juridicamente frágeis, devido aos métodos coercitivos usados para obtê-las. E que isonomia e solidez probatória são prerrogativas constitucionais, violadas pelo juiz com requintes de exibicionismo

Essas constatações, de resto bastante óbvias, mereceriam no mínimo o respeito formal pela hipótese da inocência de Lula. E, mais importante, deveriam provocar um claro repúdio aos arbítrios eventuais de Moro, sem meandros retóricos, da mesma forma como se repudia a corrupção na esfera política independentemente de filiações partidárias. 

No entanto, obcecados pelo sacrifício expiatório do petista, Rossi e Schwartsman bloqueiam a constatação racional dos fatos. Observadores tão perspicazes na denúncia do Judiciário bolivariano, por exemplo, aqui preferem acreditar em juízes ativistas, meganhas grampeadores e alcaguetes malvados. 

Acontece que só há argumentos para aceitar as teses de Moro se suas excepcionalidades forem naturalizadas de alguma forma. O raciocínio adversativo surge então para afagar a necessidade moral de se fazer críticas à Lava Jato, desde que a soma resulte benéfica, minimizando a gravidade dos seus defeitos. 

Está claro, portanto, que os próprios colunistas exibem sintomas dos comportamentos que criticam. A adesão fanática a Sérgio Moro resulta em cegueira diante das evidências de sua atuação irregular. E as desculpas que utilizam para amenizar essa omissão repetem a falácia malufista dos fins que justificam meios

Não me preocupa saber se o distúrbio é espontâneo ou provocado pelo cinismo típico dos intelectuais que endossaram a legitimidade do golpe parlamentar. Talvez seja as duas coisas. Importa salientar que se trata de uma postura ética, portanto persuasiva, calcada nas imagens que os autores querem construir para si mesmos e para seus antagonistas. 

Situando-se no polo oposto da loucura militante e incorporando um éthos ponderado e isento, o raciocínio de Rossi e Schwartsman obstrui o debate, sob o risco da discordância confirmar a premissa acusatória. Quem retruca é fanático malufista do PT. Os críticos de Moro são cúmplices dos réus que ele julga. 

Tudo que advém dessa postura impositiva resulta arbitrário: a associação dos magistrados com uma ideia positiva de “justiça”, a credibilidade dos delatores, as boas intenções da Lava Jato, o caráter suspeito de Lula. Harmonia perfeita entre o tema e a abordagem, o objeto e sua apologia, os colunistas e a causa que defendem. 

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