segunda-feira, 9 de maio de 2022

Neonazistas do bem



A solidariedade incondicional pela Ucrânia faz parte da imagem positiva que os aliados exibem para plateias internas e externas. As aparências são tênues, contudo, e exigem o silenciamento dos debates que possam revelar suas contradições.

O maior desses embaraços vem do neonazismo ucraniano. O esforço para subestimá-lo envolve até acadêmicos e jornalistas respeitáveis, segundo os quais as milícias são poucas e esparsas, parecidas com núcleos “ultraconservadores” de diversos países.

Pois estão mentindo. O documentário “Máscaras da Revolução”, do insuspeito Canal + francês, mostra que o neonazismo da Ucrânia é nazista mesmo e se organiza em vastos contingentes militarizados. Não há fenômeno similar nas potências ocidentais.

Eis a vergonha bloqueada pelo uníssono midiático internacional: os EUA e a Europa repassam fortunas bilionárias e imenso poderio bélico a milhares de neonazistas. Como fizeram com o jihadismo afegão, fomentam a barbárie com a desculpa de combatê-la.

Decisivo na resistência aos invasores, absorvido pelo exército e mais poderoso do que nunca, o neonazismo terá destaque inevitável no futuro governo. Então nascerá outro celeiro fascista na Europa, dando-lhe o pior triunfo geopolítico que ela poderia almejar.

Mas nenhum efeito negativo da insensatez supera os crimes de guerra ucranianos, que desde já exibem as marcas inconfundíveis das quadrilhas nazistas. Massacres e torturas realizados com dinheiro e armamentos fornecidos pelas democracias humanitárias.

A adesão imediata à censura mostra que os custos da parceria miliciana, como o próprio conflito, foram antecipados. Governos e mídia corporativa bloquearam a divulgação desses riscos, garantindo que ninguém ousasse prevenir suas óbvias consequências.

Os novos macartistas alegam refrear apologias aos delitos russos, mas de fato visam blindar a causa ucraniana. O perigo vem da rejeição pública à mera hipótese de fortalecer o nazismo, não importando o número, a origem ou a serventia dos imbecis.

Uma coisa é refutar a narrativa cínica de que os neonazistas justificam a invasão. Algo muito diverso, porém, é tomar o exemplo do imperialismo de Hitler como pretexto para um endosso conveniente à sua ideologia. Esse discurso vai além da estratégia militar.

O problema não envolve a índole de Putin, a judeidade de Zelensky ou a democracia liberal ucraniana. Envolve, sim, o uso desses argumentos banais para desviar o foco da naturalidade com que o Ocidente esnoba os valores civilizatórios que afirma defender.

A normalização da ideia de que há neonazistas inofensivos é sintoma de uma patologia moral. Seu diagnóstico ajuda a iluminar as estruturas subjetivas e institucionais que têm viabilizado o avanço do extremismo, a despeito dos hipócritas apelos contrários.

Um comentário:

Paulo de Carvalho disse...

Tenho pós graduação em História e Cultura ContemporÂnea, fiz cursos na ESG e Adesg, fiz preparatório de altíssimo nível para a Diplomacia, já li, até agora, cerca de 1500 livros, fora artigos, ensaios, apostilas, entrevistas etc., assisti inúmeras palestras de cientistas políticos, civis e militares, historiadores idem, diplomatas e outros com profundos conhecimentos no assunto, mas, até o presente momento, não encontrei uma única comprovação do que se afirmam contra Putin. Se é assassino, não vi uma só prova do crime. Sequer indícios seguros. Se é ligado a oligarcas, vai contra os depoimentos dele a Oliver Stone feitos entre 2016 e 2018 e até o que dizem empresários na Rússia. Se é ditador, tampouco explica por que, desde a primeira vez em que foi eleito, recebe em torno de 70% dos votos. Agora, chegou a 80% e quase 90% da população na Rússia aprovam a defesa que ele faz do país. Afinal, onde encontro as provas, depoimentos confiáveis, testemunhas, o que seja, dos crimes de Putin? Ou o crime dele é ter resgatado a Rússia do fundo do poço, reerguido o país, ter acreditado nos presidentes dos EUA e colocado o país em situação na qual as sanções estapafúrdias dos EUA, RU e UE não surtem efeito?