Eis o retrato desse oposicionismo paspalhão que contamina a grande imprensa nacional: descobre irregularidades no uso dos cartões corporativos por servidores federais, faz um alarde desproporcional, promove uma onda investigativa, a onda começa a espalhar dejetos por todas as facções políticas, toneladas de falcatruas generalizadas afloram e... muda-se de assunto.
Apenas o governo paulista de José Serra (PSDB) gastou mais de cem milhões de reais (em numerais fica assim: R$ 108.384.268,26), no ano passado, com cartões de débito emprestados a funcionários. Num único ano. Sem controle público. O governo Lula distribuiu 11 mil cartões. O governo Serra, mais de 40 mil. A Controladoria Geral da União divulgou que, no governo FHC, o gasto com cartões foi muito maior do que o verificado na administração atual.
Quase todos os Estados (e muitos municípios) utilizam suas versões de cartão corporativo. Permitam crédito ou débito, ou saque, não importa. São centenas de milhares de retângulos plásticos distribuídos a secretários, assessores, correligionários e afins, sem a menor sombra da fiscalização exercida sobre os gastos federais. Ninguém faz idéia de quem está gastando esse dinheiro público, nem do volume ou da natureza dos gastos. E, convenhamos, cem milhões de reais, num ano, em segredo, é demais.
Quem conhece um pouco do funcionamento da administração pública sabe que tais cartões são necessários para o cotidiano dos órgãos. O problema, talvez insanável, é a impossibilidade prática de adequar o uso do cartão às restrições da legislação. Significa dizer que a esmagadora maioria dos gastos, em todas as instâncias administrativas, parecerá irregular a uma análise minuciosa.
Então chegamos à hábil manobra do governo federal para instalar a CPI no Senado. Ora, não é a Câmara a terra-sem-lei controlada pela ingerência do Planalto? Não é o Senado a instância máxima do federalismo desapegado? Pois que o Senado investigue, oras bolas. E não são os cartões corporativos disseminados por prefeituras e Estados? Não foram eles criados e utilizados pelo governo PSDB-PFL, do magnânimo Fernando Henrique? Rastreemo-los todos, companheiros parlamentares.
Mas não. Ou acontece uma investigação restrita, ou ela não sai. Uma CPI na Assembléia paulista seria “retaliação”. Depoimento de ministro pode, do governador-candidato, neca. Exibir gastos pessoais da esposa do presidente é transparência, mas mostrar onde foram os 400 mil reais sacados, em espécie, por funcionários da Casa Civil de Serra, aí também já é abuso de petista.
CPIs como a do Banestado, a das ONGs e até a do Mensalão já mostraram como opera a probidade da oposição demo-tucana: sujou, enterra-se. Vem aí o malogro da CPI dos Cartões.
2 comentários:
Seu blog eh impecavel, Guilherme. Ta nos meus bookmarks. Congratulacoes.
Obrigado, Ivan. Quando possível, ajude a divulgá-lo.
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