A saída do blog Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, do iG provocou burburinho exagerado. Seus muitos desafetos parecem fanáticos dançando sobre caixões inimigos, como se uma simples troca de hospedagem significasse um vexame coletivo. E os defensores do jornalista enxergam censura e violências numa atitude previsível, inevitável e corriqueira, embora não seja positiva ou louvável. Até Mino Carta, diretor da Carta Capital, anunciou a retirada de seu blog dos domínios do iG, num exemplo raro de protesto levado às últimas conseqüências.
Nunca fui muito fã do Conversa, embora continue sugerindo-o aqui. Aquela telinha com a cara do PHA falando “Olá, tudo bem?” toda vez que a gente abria a página já me levou a instintivamente fechar tudo, sem ler qualquer postagem. Ele também desenvolveu uma persona um tanto contraditória, misturando Igreja Universal e michaelmoorismo de extrema esquerda. É difícil saber, entre a denúncia da mídia e uma luta incomodamente pessoal contra Daniel Dantas, qual é o real objetivo de PHA.
Sua acepção do PIG (Partido da Imprensa Golpista) parece-me exagerada, embora, para públicos vastos e condescendentes, a simplificação venha a calhar. Tampouco me satisfaço com seus textos, truncados em tópicos. Talvez sua participação televisiva supra essa lacuna (nego-me a assisti-lo na Record), mas no blog sinto falta de mais informações conexas e análises fundamentadas.
Idéias como as de PHA são divulgadas há décadas por outros informadores, sem a mesma repercussão. Claro, ele é famoso. Mas desconfio que amealhe tantos apoiadores por simbolizar um herói reabilitado, espécie de Robin Hood da Verdade, que decidiu escancarar os podres da mídia depois de conhecê-la por dentro. E é exatamente esse personagem que afasta importantes nomes do jornalismo atual, desconfiados de visionários que não rasgam dinheiro e acomodados numa imparcialidade mais proferida que praticada.
Agrada-me particularmente a desavergonhada exposição de parcialidade que PHA utiliza para confrontar a hipocrisia da imprensa hegemônica.
Aparentemente, a rescisão foi empreendida segundo as prerrogativas do contrato com o iG. Seria estéril divagarmos sobre os motivos da decisão. Provavelmente houve pressões de interesses pessoais ou corporativos atingidos pela cruzada anti-Dantas, gente da pesada, alheia a qualquer falatório ideológico. Talvez tenha influído também a possibilidade do iG ser condenado solidariamente numa enventual ação cível contra as acusações de PHA. Ou a proximidade fonética e visual entre o tal PIG e o nome do provedor.
Dizem que Caio Túlio Costa (diretor do iG e antigo ouvidor da Folha de São Paulo) justificou sua decisão por “insuficiência comercial” do blog. Ou seja, os 475 mil acessos únicos recebidos no ano passado seriam insuficientes para honrar o investimento do iG. Isso sim é bobagem, e demonstra que a rescisão não obedeceu a princípios puramente técnicos. Quando alguém precisa inventar mentiras para explicar suas atitudes, tem coelho na tuba. Os ferozes inimigos de PHA argumentam que 475 mil acessos individuais não significam grande coisa. Mentira. Esse índice pode não ter gerado dividendos (e, a propósito, como saber?), mas, nos padrões brasileiros, para um blog pessoal, sobre política, é respeitabilíssimo e igualado por poucos.
A direção do iG não procurou conferir transparência à rescisão: os leitores do blog foram privados de avisos prévios (a página foi simplesmente desativada) e PHA teve de recorrer à Justiça para recuperar os arquivos de suas postagens (leia mais aqui). Mesmo com toda a polêmica que se seguiu à medida, Costa nega-se a prestar maiores esclarecimentos. Não tem essa obrigação, mas seria um gesto de, digamos, boa vontade, em se tratando de um assunto com certa repercussão pública. Aliás, pelo menos os usuários do iG mereciam tal satisfa.
De escândalo irrelevante em escândalo irrelevante, para o bem do debate político nacional, inconformistas como Paulo Henrique Amorim vão conquistando popularidade – menos por atributos próprios que pela inabilidade canhestra de seus adversários.
7 comentários:
Caro Guilherme, até agora, pelo que li e ouvi, você foi o único a dar uma roupagem distinta desse acontecimento. É sempre gratificante e entusiasmador ler suas opiniões. É como se ao lê-lo, ao menos por um instante, eu fosse acordado do lugar-comum com um safanão de letras e palavras e frases coerentemente dispostas e argumentativas à espera de um possível despertar alheio.
Bravo! Obrigado. Abraço do Leitor Erivelto.
Olá Guilherme, cheguei ao seu blog através do link no comentário seu no Observatório da Imprensa na postagem de A.D.
No seu comentário, aqui no seu blog, você teve um pequeno erro que pode ser corrigido. Quando fala dos 475 mil, não são acessos únicos no ano, e sim por mês.
http://portalimprensa.uol.com.br/portal/ultimas_noticias/2008/03/18/imprensa17997.shtml
Coloquei seu blog nos favoritos, estarei visitando. Se me agradar, que bom pra nós, se não, foi um prazer.
Um abraço,
Gabriel Sitônio
Oi, Guilherme,
Cheguei ao seu blog por meio do comentário no OI, embora lamenta que sua participação tenha sido meramente para divulgar seu texto, não se manifestando sobre a incoerência, no meu modo de ver, daquele OI, que opina apenas quando lhe convém. Gostei de seu texto, faço apenas alguns registros que me parecem pertinentes: - penso que o fato merece sim o barulho que causou e ainda causa, pela forma desrespeitosa e, parece, ilegal, como se deu; - desrespeitosa com o profissional e, principalmente, com seus leitores; - ilegal, pela indisponibilidade e descontinuidade de acesso ao conteúdo produzido e ainda pela tentativa de dano à imagem do jornalista quando se divulgou a falsa justificativa de pouca audiência; - no mais, pode-se concordar ou não com PHA, o que não se pode deixar de reconhecer é que, diferentemente de quase a totalidade de nossa mídia, que se traveste de imparcial para melhor enganar seus leitores/expectadores/ouvintes, ele assume suas preferências, mostra a cara, aquilo em que, acredita, escreve sobre isso, e deixa a nós o direito de análise e escolha, de acompanhá-lo ou não. Particularmente, em meio a tanta hipocrisia em que estamos imersos, e não só na mídia, considero uma postura assim um privilégio, quase uma dádiva, um convite à coragem e à ousadia, um lampejo de esperança na raça humana...puxa, devo confessar que eu gosto muito disso.
Damir Ferrere
Oi, Guilherme,
Cheguei ao seu blog por meio do comentário no OI, embora lamenta que sua participação tenha sido meramente para divulgar seu texto, não se manifestando sobre a incoerência, no meu modo de ver, daquele OI, que opina apenas quando lhe convém. Gostei de seu texto, faço apenas alguns registros que me parecem pertinentes: - penso que o fato merece sim o barulho que causou e ainda causa, pela forma desrespeitosa e, parece, ilegal, como se deu; - desrespeitosa com o profissional e, principalmente, com seus leitores; - ilegal, pela indisponibilidade e descontinuidade de acesso ao conteúdo produzido e ainda pela tentativa de dano à imagem do jornalista quando se divulgou a falsa justificativa de pouca audiência; - no mais, pode-se concordar ou não com PHA, o que não se pode deixar de reconhecer é que, diferentemente de quase a totalidade de nossa mídia, que se traveste de imparcial para melhor enganar seus leitores/expectadores/ouvintes, ele assume suas preferências, mostra a cara, aquilo em que, acredita, escreve sobre isso, e deixa a nós o direito de análise e escolha, de acompanhá-lo ou não. Particularmente, em meio a tanta hipocrisia em que estamos imersos, e não só na mídia, considero uma postura assim um privilégio, quase uma dádiva, um convite à coragem e à ousadia, um lampejo de esperança na raça humana...puxa, devo confessar que eu gosto muito disso.
Guilherme,
fico estarrecido com a quantidade de textos inúteis sobre a demissão de PHA, como o seu e de Alberto Dines. Reinaldo Azevedo dançou em cima da tumba, Azenha foi a fundo na investigação e na opinião. Não lhe cobro uma específica, mas qualquer uma. Vc diz que o barlho é desmerecido, mas não há uma linha no seu texto que explique essa afirmação. Só repete fatos de conhecimento público. Espero, numa próxima visita, conhecer mais de suas opiniões. Abraços.
Esse fato me lembra uma fala de um filme de ficção de aventuras, quando a Senadora Amigdala fala sobre o aplauso aos superpoderes dados ao "primeiro ministro" de Star Wars, aqui em uma tradução livre: " Com um aplauso se encerra a liberdade"
Independentemente do que se acha do PHA (pro ou contra), aplaudir a atitude do IG é temerária, pois parece que a doutrina norte americana do "inimigo do Estado" está na cabeça de algumas pessoas por aqui, que se esqueceram de uma frase famosa de Luiz XIV, rei da França: "L'État c'est Moi" - O ESTADO SOU EU. Portanto, senhores, juízo. A sabrevivência neste mundo NUNCA dependeu de dinheiro, mas sim de atitude. Por falar em filme, lembram-se da cena do ÙLtimo Imperador, onde os "eunucos" da corte do rei se apresentam em sua frente com suas genitálias mumificadas? Pois é, triste espetáculo que se repetirá aqui, caso os pares do PHA nada comentarem (a favou ou contra).
Guilherme, aquela telinha com a cara do pha com a frase olá tudo bem! é como se fôsse a logomarca no blog do jornalista, assim como a sua logomarca são livros com uma foto do seu rosto em preto em branco com seu nome e sobre nome abaixo. no demais, nunca é tarde!
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