Quem conhece os meandros das últimas investigações envolvendo governos do PSDB afirma, num misto de expectativa e incredulidade, que elas representam bombas de grande potência armadas no colo do partido. Eis um ligeiro resumo dos eventos.
I – Governo do Rio Grande do Sul, gestão Yeda Crusius (PSDB). A Polícia Federal indiciou dezenas de pessoas por um esquema de fraude no Detran gaúcho. Foram desviados cerca de R$ 40 milhões. Um dos chefes do esquema seria o empresário Lair Feirst, antigo militante tucano, coordenador financeiro da campanha da governadora. O ex-secretário de Segurança, Enio Bacci, afirmou ter alertado a governadora sobre os desvios, em vão. Há uma CPI na Assembléia do Estado investigando o escândalo.
Outra ocorrência custou o cargo do chefe da Casa Civil, Cézar Busatto, que teria permitido o desvio irregular de recursos de estatais como o Banrisul e o próprio Detran para financiar campanhas do PP e do PMDB, partidos da base aliada de Yeda. A PF ainda investiga denúncias de compras superfaturadas realizadas pelo Banrisul.
II – A Operação Mexilhão Dourado, da Polícia Federal, originou uma denúncia ao Ministério Público relatando desvio de verbas da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) para financiar campanhas de deputados federais. Coisa de R$ 60 milhões. Foram envolvidos os deputados Dr. Talmir (PV), Abelardo Camarinha (PSB), Vadão Gomes (PP) e Mendes Thame (PSDB).
Mendes Thame foi secretário de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras (governos Mário Covas e Geraldo Alckmin) e é o atual presidente do diretório paulista do PSDB. Dr. Talmir Rodrigues é membro da CPI do Sistema Carcerário (sim, ela existe) e coordenador de uma Frente Parlamentar contra a legalização do aborto. Vadão Gomes é membro da Comissão Parlamentar de Defesa do Consumidor, absolvido de envolvimento com o “valerioduto” (nome dado pela imprensa paulista ao “mensalão”, quando este envolve tucanos e demos). Camarinha foi prefeito de Marília (SP), acusado pela organização Repórteres Sem Fronteiras de ordenar o incêndio criminoso, a posterior invasão e reiteradas tentativas de censura contra um jornal opositor local.
III – O caso mais grave parece ser o da Alstom, multinacional de origem francesa investigada na Suíça e na França por subornar autoridades de vários países para obter contratos lucrativos. A Polícia Federal cita quadros importantes da hierarquia tucana, envolvidos em facilitações para obras do Metrô. As falcatruas teriam ocorrido nas gestões Covas e Alckmin. A base aliada tenta instalar uma CPI sobre o caso no Congresso, já que todas as tentativas de investigação iniciadas na Assembléia paulista são abortadas pela força da maioria serrista.
Até o momento foram lembrados David Zylberstajn, secretário de Energia do governo Covas e genro de FHC; Robson Marinho, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, coordenador da campanha de Covas e ex-chefe da Casa Civil de seu governo; Mauro Arce, que foi secretário de Energia, presidente da Sabesp e do Dersa (governos Covas e Alckmin) e atualmente comanda a pasta de Transportes do governo Serra; Andréa Matarazzo, o todo-poderoso secretário municipal de Subprefeituras (gestão Kassab), outro ex-secretário de Energia.
Previsivelmente, a grande imprensa esgoela-se para omitir as filiações partidárias e as funções administrativas dos envolvidos. O hábito é utilizar coletivos genéricos (“políticos paulistas”), datações inexatas (“entre 1995 e 2007”) e jargões técnicos (“evasão de divisas em offshores”). A blindagem pode surtir resultados parciais, mas os ossos continuarão nos respectivos armários, ameaçando a imagem do partido administrador e honesto, em pleno ano eleitoral.
Comentário enviado por Son em 9/6/08:
Gostaria de acrescentar à sua lista o ex-governador e atual senador do Estado de Goiás, Marconi Perillo, também tucano, pelos crimes de formação de quadrilha, tráfico de influência, peculato, caixa dois, uso da máquina pública e utilização de notas frias e laranjas para fraudar a eleição de 2006. Houve representação do PSOL contra o senador mas, incrivelmente, o processo não passou pela Mesa Diretora do Senado e foi arquivado.
4 comentários:
Gostaria de acrescentar à sua lista o ex-governador e atual senador do Estado de Goiás, Marconi Peillo, também tucano, pelos crimes de formação de quadrilha, tráfico de influência, peculato, caixa dois, uso da máquina pública e utilização de notas frias e laranjas para fraudar a eleição de 2006. Houve representação do PSOL contra o senador mas, incrivelmente, o processo não passou pela Mesa Diretora do Senado e foi arquivado.
Guilherme, para seu conhecimento o blog Desabafo País publicou a referida matéria. Um forte abraço, Daniel - editor.
Ao que me consta a candidata a então vice de José Serra é a deputada capixaba Rita Camata.
Olá Doney, realmente a candidata a vice de Serra foi a deputada federal Rita Camata (PMDB-ES), não a atual governadora. Faltou a tão necessária checagem. Minha atualização será devidamente exterminada.
Obrigado pela correção.
Um abraço do
Guilherme
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