Num acordo com o Ministério Público, a CBF decidiu proibir a venda de bebidas alcoólicas nos estádios em jogos da seleção e dos Brasileiros. A idéia é coibir a violência. Em São Paulo, a proibição vale desde 1996.
Lembro-me de um jogo no Maracanã, há três anos, no qual pude comprar grandes copos plásticos da péssima cerveja quente que serviam por lá. Mesmo assim, foi uma dádiva para este desacostumado usuário de estádios paulistas. Não vi qualquer distúrbio na ocasião. E duvido que as estatísticas mudem radicalmente com a adoção da medida. Aliás, aposto que ninguém voltará a tocar no assunto.
Para não haver dúvida, esclareçamos desde já que as “bebidas alcoólicas” em questão se resumem à tradicional cervejinha. Não há pinga, uísque, vinho, conhaque, tequila, absinto ou rum em balcão de estádio (não há, diga-se, muita coisa).
Pois bem. Na prática, proíbem a cerveja para conter os ânimos acirrados. A idéia de que cerveja é responsável pela violência reflete uma visão tão deturpada e simplificadora que dá preguiça de argumentar contra ela.
As piores brigas ocorrem fora dos estádios, onde é muito mais fácil andar armado, onde também as torcidas adversárias confrontam-se. Nas ruas, há oferta de quase todo tipo de droga, inclusive a nefasta cachaça, acessível e extremamente nociva.
O cidadão fica bêbado (ou louco) quando quiser, como quiser, independente da vontade dos nobres legisladores. Qualquer estrupício destrambelhado pode armar sarrafuscas num estádio, com ou sem bebericos nos seus lotados botecos. E é ridículo imaginar que os pobres-diabos vão consumir tonéis de cerveja morna e cara, nos poucos minutos disponíveis, depois de pagar uma pequena fortuna pelo ingresso.
A lógica embutida nas leis secas de toda espécie é semelhante à de se extinguir os automóveis por causa da mortandade no trânsito. Ou de se proibir o sexo para conter a transmissão da Aids. Não, pensando bem, não é a mesma coisa. É pior, porque a extinção dos automóveis e do sexo, embora retrógrada e estúpida, realmente causaria uma queda brutal nos problemas em questão. Banir a cerveja não faz cócegas na origem da violência. Trata-se de conservadorismo tacanho puro e simples, invenção para aliviar as responsabilidades das polícias e autoridades civis responsáveis.
O divertido nisso tudo é que ninguém gosta de cortar a própria birita, digo, mamata. A publicidade das bebidas, por exemplo, continua permitida nos estádios e programas esportivos, acessível ao vasto público jovem. E o consumo corre solto nos camarotes, já que apenas os pobres são incivilizados.
Já tentaram acabar com a batucada, os guarda-chuvas e os radinhos. Especularam até realizar jogos com apenas uma torcida. Assim que os burocratas acertarem a licitação, surgirão os primeiros bafômetros para torcedores. Logo os gênios descobrirão que o futebol é o grande vilão da segurança pública. E as ocorrências despencarão em 100%, para corroborar a tese.
3 comentários:
Leio habitualmente a Caros Amigos. Passei no seu blog.
**Chega de explicações!
Faço Direito e raramente os futuros "operadores" fazem as seguintes interrogações:
se, por quê, quando e como castigar (justificação da pena); se, por quê, quando e como proibir (justificação dos delitos); se, por quê, quando e como julgar (justificação do processo).
(Ia começar a falar do sistema penal, da sua problemática, da violência... coisa chata de estudante fungindo continuamente do assunto)
**O blog sem muitos comentários. Fenômeno natural dos blogs.
Deve ser porque às vezes estamos tão ocupados, sem criatividade... É que a vida cansa e pesa etc.
Oi, Guilherme.
Maravilhoso, sensacional, é isso aí!
Grande texto. Querem simplesmente acabar com o que é espontâneo no ser humano (pobre). "Vamos proibir isso, vamos proibir aquilo", é uma desgraça, né? Uma mistura de burrice, má intenção e conservadorismo estúpido. Até quando? E você disse bem, quero ver proibirem a publicidade de cerveja! Rárárá!!!
Abraço.
Cibele, ate que prohibicao das **propagandas** de cerveja dentro de estadios ou em transmissoes de jogos seria uma bencao. Mas deveria ter sido feita ha 30 anos atraz ou mais, porque agora ja esta aas na fronteira do cricri, e pior, nao fica claro se eh lobby politicamnte-correto ou se nao eh, nao fa clara a distincao entre tomar cerveja casual e faer propaganda. Eh so mais uma "lei" que vai ser ignorada nao por nao ser efetiva mas por ser cricri. (Por sinal, saida de jogo nos EUA eh uma festa muito baguncada, todo mundo leva churrasqueira e fica fazendo picnic no estacionamento, e cerveja nao falta -nao vou nem que o estadio estivesse pintado de ouro.)
Postar um comentário